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Enrustido, negado ou omisso?

Olá! 

Desculpem o período de silêncio. Aconteceram muitas coisas bizarras neste intervalo, mas a vontade de ficar pasmo na frente da TV assistindo à Sonia Abrão foi maior do que escrever estas linhas. No mundo real, eu mudei de emprego. Estou passando por novas experiências, conhecendo gente, mas também despertando a temida curiosidade alheia, vulgarmente conhecida como "fofoca de corredor". E amplamente difundida, principalmente, pela pergunta: ele é gay?

Embora um teste do Facebook tenha dito que sou um gay "negado", o fato de não ter respondido de maneira objetiva às tantas (in)diretas que recebi no trabalho deixou no ar um certo mistério, inclusive para mim: sou enrustido? Acho que não. Omisso? talvez. Ou ainda: nem um nem outro. Estou apenas quieto. E não é isso que querem de nós?

Não é legal (ou melhor, inteligente) sair perguntando por aí aleatoriamente sobre a sexualidade das pessoas, principalmente quando ela está explícita. Isso denota não só falta do que fazer, como também um certo tipo de problema de ordem psiquiátrica (retardamento mental) ou fisiológico (cegueira), o que poderia suscitar como resposta perguntas do tipo: você já tomou o seu remédio hoje?

Enfim, o fato é que não há lógica em querer saber o que alguém curte na própria cama (ou na dos outros) a menos que você esteja interessado em levar para a sua. E como o lugar onde trabalho não é um templo de gogo boys, o melhor é ficar calado. Se mesmo assim insistirem e você for do tipo que, na pior das hipóteses, prefere "dizer sem dizer nada" (no melhor estilo Luciana Gimenez em dia de debate no Superpop), é só ser sutil e delicado como eu nas situações descritas abaixo:

–  Ao comentarem sobre mulheres gostosas, quando pedirem sua opinião, se limitar a dizer que ela é bonitinha e que adorou a maquiagem, o vestidinho e a tintura número 40 da Loreal (sim, você reconhece, inclusive, a diferente entre Koleston e Loreal).

– Quando te chamarem para jogar futebol, dizer que não gosta muito do esporte e que prefere andar de patins com as amigas no fim de semana em Ipanema. Ou que quando era criança já se contorceu o suficiente fazendo ginástica olímpica.

– Entrar "sem querer" no banheiro feminino e, depois, dizer com a cara mais lavada: – hihihih, não tinha reparado a saia do bonequinho na porta! (Se não tiver convencido a pessoa, quando estiver no banheiro masculino, fazer questão de mijar sentado e com a porta da cabine aberta)

– No dia de reunião do pessoal para o chopp, dizer que não bebe porque é evangélico e logo em seguida sacar da bolsa da Adiddas (e não aquela mochila surrada) algo como "Sustagem sabor morango" (porque homem que é homem bebe o de chocolate).

– Ao perguntarem se você tem namorada, responder que nunca mais se entregou ao amor depois que Marina, sua grande paixão, o largou na adolescência para fazer cirurgia de mudança de sexo e passou a se chamar Marcão. Você pode dizer ainda que, apesar do trauma, está tentando sair com alguém (dizer sempre na Terceira pessoa).

– Ao perguntarem se conhece algum lugar barato para cortar o cabelo, diga que conhece, sim, um salão ótimo no shopping e que cobra R$80 (com lavagem, cafezinho, revista Caras e tudo mais)! Fale que tem nojo daquele barbeiro perto da sua casa que cobra R$15, não tem xampu e ainda te oferece jornais popularescos para ver a "gostosa da semana". Já em relação a roupas, diga que só consome marcas básicas, como Armani, Levis, Guess… e que C&A, Renner e Americanas são lojas para pobre.

Se mesmo depois de tudo isso as respostas não forem suficientes, o jeito é esperar pelo lançamento – muito em breve – do Manual que estou escrevendo: "Saindo do armário com Sutileza", de 900 páginas e cinco volumes. 

Até lá! 

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