Em plenária final realizada na segunda-feira (07/09), no último dia do Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual (Enuds), ficou decidido que a próxima edição será realizada em Campinas (SP), no segundo semestre de 2010. A organização ficará por conta do grupo Identidade e do NuDU- Núcleo de Diversidade Sexual da Universidade de Campinas (Unicamp).
O Enuds, que teve a sua sétima edição realizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, desponta como grande celeiro embrionário de teses e teorias que podem vir a reformular boa parte do saber acadêmico, que ainda esbarra em forte homofobia. Além de tudo, o encontro é feito e apresentado por estudantes, o que o torna mais rico.
Outro detalhe interessante que foi possível notar durante os cinco dias de debates é que a galera, com idade entre 21 e 30 anos, não está mais a fim do "blá blá blá" datado a respeito da revolução marxista e principalmente com base na dicotomia direita X esquerda, partidos e afins. O povo não deu espaço, estava mais interessado em debater os dilemas da diversidade sexual e de que maneira fazer com que ela invada os espaços acadêmicos ao redor do Brasil.
Academia e política
É impossível acompanhar todas as mesas de um evento, seja ele qual for. Mas, por onde a reportagem do A Capa esteve presente, o saldo é positivo. Temas pertinentes e contemporâneos foram discutidos no primeiro dia. Entre eles a questão da posição do homem gay nas propagandas da grife Dolce & Gabbana e visão dos jornaleiros a respeito das revistas gays, como a extinta DOM e Junior.
Temas como bondage, sadismo e dominação feminina, a democratização da universidade e seus saberes foram discutidos, além de como integrar/interagir o saber da universidade junto aos movimentos sociais e como um pode ajudar o outro no mundo real. Sem contar também as oficinas voltadas para mostrar ao público como se montar e como se tornar uma drag queen.
As novas cabeças pensantes se mostraram bem atualizadas. Não que filósofos como Simone de Beauvoir ou Michel Foucault não estivessem presentes em algumas rodas de conversas, mas foi interessante notar quer os teóricos brasileiros que tratam da questão homossexual marcaram presença, entre eles, destaque para a socióloga Berenice Bento.
Outros foram ainda mais ousados e se utilizaram da teoria de Slavoj Zizek, na qual ele aponta os mecanismos perversos e perpetuadores de estigmas que residem em algumas políticas de diversidade sexual ao redor do mundo. E que promovem falsas inclusões.
E como todo projeto que visa à transformação, as festas marcaram presença forte em todas as noites do evento. No primeiro dia teve o "Baile de máscara". O povo não acreditou muito, também, era o primeiro dia. Mas a que mais encheu e animou foi a terceira festa, "Horror Queer Fest Show", que teve a banda cover de Arctic Monkeys e muito electro dos bons. O povo se jogou até as 6h da manhã. Para fechar o evento, foi realizada a "TransEnuds", que contou com número grande de montados.
E assim foi o Enuds 2009. Não podemos deixar de destacar o ótimo trabalho do GUDDS! (Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual) que, mesmo em número reduzido e com pouca verba, conseguiu tocar o evento. Que venha o próximo e, dessa maneira, quem sabe, daqui uns dez anos o mundo acadêmico não começa aprender um pouco com essa galera jovem que está trazendo ótimas sementes.