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Era uma vez…

E se um dia seu amor saísse para comprar cigarros e não voltasse mais? O que restaria de você, que se acha tão sem graça, que é incapaz de não invejar o amor alheio?

Se o coração que roubaste outrora fosse roubado por outra pessoa? Se a “feitiçaria” que seu amor se submetesse fosse aquele sincero, daquele que nasce no coração, como aceitar essa ironia do destino? Seria você capaz, de mesmo assim, aceitar sua sina de mulher solitária, trocada?

E se o mal que tanto desejou a sua inimiga lhe caísse como garoa fina e fosse sutilmente lhe ferindo a carne e expondo suas feridas que nunca mais irão parar de doer?

É este clima “dramático/romântico/gótico/sarcástico” que permeia a vida de Amélia (Alessandra Maestrini). Não, ela não é a protagonista da música de Roberto Carlos. Ela quer ser vaidosa e não consegue. Submissa e não nasceu para amélia. Quer amar, mas como muitas, ela não nasceu apta a desfrutar desse sentimento.

“7 – O musical”, dirigido por Cláudio Botelho e Charles Möeller (dupla bam bam bam dos musicais), subverte o universo perfeito das protagonistas de contos de fadas. Aproxima a vida do público com a das personagens encantadas da Disney, sem a crueldade e a secura das metáforas expostas pelos originais dos irmãos Grimm. Quem nunca desejou recorrer a feitiços para atrair a pessoa amada? Quem nunca se viu enfeitiçada(o) por outra pessoa? Quem nunca ficou com medo das consequências da paixão?

Amélia é uma espécie de anti-heroína. Impulsiva e ingênua, que cede aos apelos do desejo, aos recursos fáceis de soluções prontas e se torna refém de sua própria tragédia. O musical com ares dark teatralizou o tom impostado recorrente aos musicais americanos e tornou coloquial o que antes aparentava ser apenas ritmo e métrica.

As personagens caricaturais do musical aproximam o espectador do universo onírico criado pela dupla de diretores com a ajuda dos cenários de Rogério Falcão e o figurino de Rita Murtinho. Torna popular uma história que fazia parte do imaginário infantil. Afinal, basta crescer para deixar de lado Branca(s) de Neve, Cinderela(s) e afins.

A vida de Amélia é cheia de clichês. E qual não é? A dramaturgia do músico aproxima ideias e torna pueril e simbólico os desejos humanos. O que restará de Amélia se o amor não voltar? Por quais sortilégios passará, para finalmente aceitar seu destino. Seus nãos.

“7- O Musical” é antes de tudo um exercício singelo de intertextualidade, sugerindo sem didatismo, sem novidades, as metáforas implícitas na vida de todos, independente da origem.

Infelizmente “existem pessoas que nascem para serem sós, a vida inteira” (Caio Fernando Abreu). Oito prêmios na bagagem, incluindo três Shell (direção, figurinos e iluminação) talvez não seja um dos motivos para que você conheça Amélia. Descubra os outros 7.

Serviço:
7 – O Musical
Temporada de 17 de abril a 6 de junho
Sextas, às 21h30. Sábados, às 21h. Domingos, às 18h.
Local: Teatro Sergio Cardoso
Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista
Tel: 3288-0136
Ingressos a R$ 40 (platéia) e R$ 20 (balcão).
www.teatrosergiocardoso,org.br.

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