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“Éramos muito apaixonados”, diz Ney Matogrosso sobre relação com Cazuza

A TV Globo está preparando o especial "Por Toda a Minha Vida", sobre a vida de Cazuza. Assim como no filme "Cazuza – O Tempo Não Para", o cantor Ney Matogrosso achou "muito estranho" não ter sido consultado pela emissora para dar informações que contribuíssem com a fidelidade do roteiro.

"Eu nem sabia que esse especial da Globo abordaria a minha história com o Cazuza. Acho muito estranho mesmo estarem fazendo isso sem me consultar. Só soube porque ligaram para um assessor pedindo para me perguntar qual era o meu carro quando conheci o Cazuza", revelou Ney à repórter Débora Bergamasco, da coluna Mônica Bergamo, no jornal Folha de São Paulo de domingo (29/03).

Na entrevista, o cantor afirma que sua história com Cazuza "só quem pode contar" é ele, pois "foi o único que sobrou".

O primeiro encontro dos dois aconteceu em Ipanema, no Rio, em 1979. Cazuza chegou na praia com uma amiga. Ney, ao ver Cazuza, perguntou: "’Quem é esse pivete com você?’. Porque ele era um pivete. Ele tinha 18 anos, e eu, 39. Ficamos enlouquecidos, mas não rolou nada", contou.

O cantor relata que, um dia, essa mesma amiga foi à sua casa com Cazuza e aí sim "tudo aconteceu". "Eu morava no Alto Leblon, num apartamento de três andares e meu quarto era no terceiro piso. Ela chegou, subiu, conversamos e disse: ‘O Cazuza tá lá embaixo’. Mandei chamar. E ele veio. Tinha um jardim no meu quarto. Tudo aconteceu lá."

O relacionamento de Ney e Cazuza durou pouco tempo, "uns quatro meses de labaredas". Segundo o cantor, a maior dificuldade foi quando a família de Cazuza ficou sabendo. "Nós saíamos para todo lugar juntos, não escondíamos de ninguém. O problema era ele ter uma relação homossexual com alguém famoso. Imagine: o filho do João Araújo está namorando o Ney. Quem ainda não sabia da sexualidade dele ficou sabendo". Os pais de Cazuza ordenaram que ele fosse para Suíça imediatamente. "Ele não queria ir. Eu dizia: ‘Deixa de ser burro. Vai. Não vai perder essa oportunidade, não vai mudar nada, quando você voltar eu estarei te esperando’", disse. 

Ney afirma que o casal era muito apaixonado, e que tinha conhecido um Cazuza que ninguém conheceu. "Um Cazuza desarmado, que, na intimidade, era a pessoa mais doce, que era encantador, por quem me apaixonei. Era carinhoso, bonitinho, sabe? Ele confiava em mim. Sabia que o que eu sentia era de verdade."

Porém, como todo relacionamento, surgem os altos e baixos. Pode-se dizer que o baixo de Ney e Cazuza eram as drogas. Ney conta que Cazuza desapareceu por três dias, e chegou em casa com um traficante de cocaína todo sujo.  "Eu disse: ‘Ó, você pode sair daqui. Você e esse camarada, não quero vocês dentro da minha casa, não’. Ele cuspiu em mim. Eu dei um bofetão nele e disse: ‘Ai, sai daqui… drogado!’. E eu também era drogado. Ele gostava de cocaína, eu não curtia. Não vou dizer que não senti, mas não podia conviver com esse descontrole dele com relação a droga. Era o que me incomodava."

Sobre o ciúmes, Ney afirma que é, sim, ciumento. Mas que, na época de Cazuza, nos anos 70, esse sentimento era impossível, era "tudo liberado". "O namorado que tive depois do Cazuza tinha muito ciúme dele. Uma vez ele me perguntou: ‘Ele beija bem?’. Eu disse: ‘Beija’. ‘Ele é gostoso?’ Eu disse: ‘É’. Ele me falou: ‘Eu quero transar com ele’. Eu disse: ‘Tudo bem. Pode transar’. E transaram. E depois ele voltou para me contar. Mas o Cazuza já tinha me dito antes. Se eles gostaram? Bem, foi uma vez só. Isso certamente não vai estar no programa da Globo, porque nunca falei isso antes", alfinetou.

Por fim, o cantor não podia deixar de falar sobre a doença que acarretou a morte de Cazuza, a Aids. "Tô vivo. Cerca de 80% dos meus amigos foram levados pela Aids, e eu tô aqui". "Namorei com uma pessoa que morreu disso e não fui contaminado. Mantínhamos relações regulares sem camisinha. Não tem explicação. Já pedi para vários médicos, ninguém soube dizer. Gostaria muito de saber o que há comigo que impediu essa doença de me pegar. Deus? Não acho que ele esteja preocupado com minha sexualidade," concluiu.

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