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Escritor lança livro inspirado em famosa casa noturna gls paulistana

Ele tem 25 anos, é formado em Letras pela USP e faz mestrado em Semiótica pela mesma universidade. Poderia ser um freqüentador qualquer d’A Loca, mas tem a diferença de ter lançado recentemente um livro de ficção livremente inspirado em uma das melhores casas GLS do underground nacional. Seu nome: Del Candeias, sua obra literária: A Louca.

Embora novo, este não é o primeiro livro do moço. Del publicou em 2006 um livro de poesia intitulado “Uma dose de cortisol e uma porção de serotonina”, lançado pela editora Com Arte.

Quem assina a orelha de A Louca é o dramaturgo, diretor teatral, ator e também escritor Mário Bortolotto. Sobre o livro e a casa Mário diz assim: “É um romance que já nasceu cinematográfico. Qualquer diretor esperto vai sacar isso e não vai marcar touca. E a locação já existe e é mais que apropriada”.

Na entrevista abaixo confira o que inspirou Del na composição do livro, sobre o que é a história, qual seu dia preferido na casa entre outras coisas. No final tem um trecho do romance.

Como surgiu a idéia de fazer um livro sobre a Lôca? De onde veio a inspiração de transformar a Lôca em literatura?
Bem. Acho que nos dias de hoje, é difícil separar o tempo de trabalho do tempo de diversão. Pelo que eu consigo perceber, isso é ainda mais forte no Brasil e nos EUA. A idéia era tratar desse assunto dentre outros; escolher uma balada para discutir Brasil, sociedade e até literatura. Como A Lôca é um lugar onde as coisas são muito intensas, e lá aparecem todos os tipos – gays, héteros, travestis, endinheirados, sem muita grana… – resolvi escolhê-la. E é claro: conheço bem o lugar. 

Quando foi a primeira vez que foi n’A Lôca?
Putz. Deve ter sido em 2000 ou 2001. Não me lembro ao certo.

Ainda freqüenta a casa? Quando vai prefere ir em qual noite da semana?
Vou às vezes. O pessoal que eu conhecia mais sumiu de lá. Todavia como tem coisas de memória ligadas ao local, de vez em quando, reapareço. Gosto de todos os dias; cada um tem sua particularidade. Aproveitando: a informação de que quinta e domingo são os melhores dias, apoiada em qualquer argumento que seja, é um mito.

Fale um pouco sobre o livro…É tipo ficção inspirada em fatos reais?
Sim. É ficção inspirada em fatos reais, mas se contar até onde vai a realidade e a fantasia, perde a graça. Esse é um dos elementos divertidos do livro.

Sobre o que é a história?
A história em si narra a ação de um personagem (cujo nome é o mesmo que o meu) completamente deslocado da vida noturna, e que aos poucos, vai aprendendo como lidar com esse mundo. A história, contudo, é só um motivo para se discutir sexualidade, relações sociais, literatura etc… Quem quiser ler um livro meio auto-biográfico, divertido e aventuroso, vai se satisfazer; e quem deseja encontrar reflexões variadas também não sairá decepcionado. Tudo depende dos níveis de leitura.

Onde podemos encontrar mais textos do Del Candeias?
Há alguns espalhados na net. Escrevo num site de crítica e tenho um blog meio abandonado com a escritora Ana Rüsche.

Onde comprar o livro?
O livro está sendo distribuído para as livrarias. Um lugar que eu tenho certeza de que já tem é o sebo do Bactéria que fica no Espaço dos Satyros II; lá na praça Roosevelt. 

“‘Vais encontrar o mundo’, disse-me a hostess gostosa, à porta da Louca, ‘coragem para luta.’ Bastante experimentei depois a verdade desse aviso, que me despia das ilusões criadas pelo mundo artificial construído à minha volta, onde certas coisas apareciam pela metade, e outras se faziam tão inteiras que, ocupando mais do que o dobro do antigo espaço, mudavam de essência; às vezes, transformando-se em seus avessos.
Lembro-me perfeitamente da frase e da hostess; em especial, da segunda pessoa do singular daquela e das pernas da última. Eram muito bem acabadas, dignas, somente, de seus lugares de origem. Contudo, queriam fugir da saia, enquanto as mãos obedientes separavam a comanda. Dia, mês e ano, não faço idéia. Provavelmente, era domingo, porque diziam sempre: ‘Vai lá domingo’, ‘Domingo é que é legal’, ‘Domingo é mais misturado’, ‘Louca? Só no domingo…’, ‘No resto da semana, dá muito gay: domingo’. Só alguns meses mais tarde, percebi que esse era o pior dia. Até o momento da descoberta, freqüentei a casa na noite errada, convicto de que estava certo.”

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