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Espaço para sexo anônimo ainda é tabu entre lésbicas

Mais almofadas e menos azulejos

Mesmo após o feminismo, personalidade romântica das mulheres ainda é tabu para que elas possam ter seu próprio espaço para sexo anônimo…  Sauna só para mulheres: você freqüentaria?

Todos nós sabemos que ao longo da história as mulheres conquistaram seu próprio espaço com suas próprias mãos. Espaços estes políticos ou não, deram a elas a chance de votar, melhor qualidade no trabalho e certa liberdade sexual. No entanto, ainda falta muita coisa para existir uma igualdade real entre os gêneros. Podemos perceber isso quando comparamos os gêneros em qualquer assunto, como trabalho, esportes, família, diversão, liberdade sexual etc.

Na comunidade GLBT não é diferente. A necessidade de ter mais visibilidade para o gênero feminino chega a ser tão importante que há uma parada (menor) especialmente para elas em São Paulo, onde ocorre a maior parada gay do mundo.  As lésbicas conquistaram seu espaço e são bem mais fiéis a eles. No entanto, ainda faltam mais lugares onde elas possam falar, procurar e praticar o sexo sem compromisso.

Para os homens, um desses lugares, por exemplo, são as famosas saunas gays, ou "sow", em finlandês, que significa "casa de banho". Praticada há mais de 2.000 anos pelos finlandeses, ela foi criada para ajudar a combater a baixa temperatura local de maneira agradável. Segundo publicações, a primeira sauna voltada ao público GLS no Brasil foi criada em 1976, na cidade de São Paulo, e funciona até hoje. A maioria delas não permite a entrada de mulheres. Inclusive, não achamos nenhuma voltada apenas para o público feminino. Já dizia Marina Lima: "Por que as mulheres também não podem ter a sua sauna gay?"

Culturalmente as mulheres freqüentam termas apenas com o intuito de bem estar físico e tratamento de beleza. A maioria delas localiza-se em prédios residenciais ou em suas próprias casas, ou até mesmo em clubes privados. Mas será que é só isso? Pensando em desvendar um pouco desse mistério, A Capa procurou a opinião de algumas lésbicas com a seguinte pergunta: "Você freqüentaria uma sauna exclusivamente para mulheres?"

Para a jornalista Nina Lopes, por questões de higiene, ela não seria uma usuária do estabelecimento. "A mulher está mais propícia a pegar DSTs e isso pesa na hora de decidir sobre um lugar para sexo fácil. Além disso, acho que o sexo feminino pede um pouco mais de erotismo", revela. Da mesma opinião que Nina, a estudante Ligia Fagundes afirma que mulheres precisam se sentir mais envolvidas para a prática do sexo, mesmo que seja casual.

É indiscutível o fato de as mulheres se sentirem menos a vontade para freqüentar um ambiente onde podem encontrar alguém desconhecido, sentir interesse e logo praticar o sexo sem compromisso. Mas de onde vem isso? A socióloga Flavia dos Santos diz que é cultural: "O sexo entre mulheres não é tão visual, precisa de um envolvimento maior. A maioria de nós precisa sentir um mínimo de atração para sentir prazer", completa.

"Isso vem da nossa cultura machista de raiz. O homem não sente culpa no prazer e tem estímulos desde pequeno para o sexo sem pudores. Já a mulher ouve desde a infância sobre sua reputação e cria tabus muitas vezes levados para sua vida adulta sobre sexo por sexo. A mulher precisa se sentir segura para praticar", conclui.

Para a americana Kerby Ferris, técnica de computação, a sauna feminina não faria sucesso porque o sexo entre homens é mais prático devido à anatomia. "O órgão masculino é para fora, já o da mulher é para dentro e precisa de mais estímulos, físicos e psicológicos, para chegar ao orgasmo."

Das quinze entrevistadas procuradas pela revista, apenas três meninas afirmaram que visitariam uma sauna para sexo casual, mesmo que fosse apenas para tirar a curiosidade. Em tempo, a duas entrevistadas estão em um relacionamento e pediram para não serem identificadas. "Eu acho válido como experiência, mas iria a uma que não tivesse nenhuma conhecida. E iria sozinha. Imagina encontrar aquela amiga meio distante? Seria constrangedor. Ou iria com uma amiga apenas para ver, não faria nada", diz uma delas.

Uma das entrevistadas confessou que dribla a falta de um local específico para transar anonimamente com mulheres freqüentando os clássicos puteiros da Rua Augusta. "Existe um no final da Augusta, que é conhecido entre as lésbicas. As meninas que trabalham lá até se divertem com a gente. Falam que somos mais carinhosas".  Se ela iria a uma sauna lésbica? "Lógico".

E se esse lugar existisse, como seria? Segundo a publicitária Maria Miranda, o ambiente seria o mesmo do masculino, com cabines particulares ou não, piscinas e bares, mas seria menos sexual. "Acredito que os homens gays tratam o sexo de uma forma mais casual que as mulheres, porque para eles é mais natural conhecer um cara, transar e depois nunca mais se falarem. A lésbica leva mais a sério o jogo de sedução. Não vejo isso acontecer em um ambiente que você sabe que vai entrar e fazer sexo. Mas se existisse, teria que ser mais romântico, menos azulejos e mais almofadas".

Nina Lopes aponta que se existissem casas de banho femininas até teria público, mas a freqüência não seria assídua porque as mulheres iriam apenas pela curiosidade. "As meninas ainda preferem festas voltadas a elas". Fora do Brasil já existem esses lugares, mas para que exista por aqui, teremos um longo caminho de discussões, quebras de tabus e autoconhecimento pela frente.

E você, freqüentaria uma sauna só para mulheres?

*Matéria originalmente publicada na edição 11 da revista A Capa

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