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Esquerda à direita, direita à esquerda. Como?

Creio que o mundo político, isso não se restringe ao Brasil e sim a muitos outros países, vive uma crise de valores sem precedentes. No caso, o principal sintoma de tal fato se encontra na política. O que é esquerda? Direita? Elas ainda existem? Como as pessoas (e quando falo pessoas me refiro desde o vendedor de cachorro quente ao mestre em ciências políticas), será que o eleitor ainda encara, na hora de seu voto, por exemplo, a questão simbólica esquerda e ou direita? Sinceramente, creio que não.

Podemos citar dois exemplos gritantes da perda, ou mudança, de tais valores, no que diz respeito à disputa eleitoral nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. No primeiro temos o candidato Fernando Gabeira disputando as eleições com Eduardo Paes. Há gente que diz o segundo candidato ser o rompimento com o continuísmo e Gabeira ser a seqüência da prefeitura de Cesar Maia.

Oras, quem era do PSDB e por mero apoio político e ânsia de poder migrou para o PMDB, foi o Paes né? E, quem saiu do PT por discordar de certas atitudes, abriu mão de grande apoio e foi para o PV, Gabeira né? Posto isso, quem é a continuação? Confio mais em Gabeira do que em Paes, primeiro sou sim fã desde a minha adolescência de Gabeira, no meio do moralismo que ainda hoje reina em nossa sociedade, ele defendia e sempre defendeu a legalização das profissionais do sexo e outros temas polêmicos.

São Paulo também tem sido fonte de estudo para os símbolos políticos. O grande mote para tal foi a primeira propaganda da candidata Marta Suplicy onde questionava a vida privada de Kassab, “é casado? Tem filhos?”. Tem coisa mais direitosa do que isso? E do outro lado, nunca se viu uma campanha de um partido conservador tão alinhado as questões clássicas da clássica esquerda política: inclusão social, imposto nulo a serviços, tais como: mecânico, cabeleireiro, trabalhador autônomo no geral, uma linguagem com forte apelo popular e por aí vai. Toda essa desconstrução ideológica reside, boa parte pelo menos, na publicidade política, onde não há nem direita e nem esquerda. E, em uma sociedade televisa como é a brasileira, é claro que boa parte do eleitorado irá se basear nas propagandas políticas televisivas. Portanto não importa quem é esquerda e direita, importa os direitos adquiridos e quem vai continuar ou melhorar.

A política hoje é espetáculo, show midiático. Não importa ao eleitor do Rio que Gabeira esteja coligado com PSDB e DEM, importa o fato dele representar no imaginário popular a renovação, um cara progressista, moderno e que muito lutou pela conquista da democracia do Brasil e, queiramos ou não, é a cara do Rio de Janeiro, vide o apoio da classe artística e até do arquiteto e eterno comunista Oscar Niemeyer que, além de apoio disse, “o PT deveria fazer o mesmo”. Anotou? Em São Paulo não é diferente, Kassab construiu a sua imagem assim, o cara novo, figura nova na política e que continuou tudo o que deu certo no governo da Marta, melhorou e foi além.

Até onde vai a verdade e a mentira? Essa resposta poucos sabem, até mesmo os candidatos. Pois, quem rege hoje a política e a disputa não é ideologia e as suas bandeiras históricas e sim o marketing e a maquiagem. Quem construir a melhor retórica vence. São Paulo é o grande exemplo, os marqueteiros de Kassab fizeram uma excelente campanha, construíram uma onda Kassab e dificilmente será revertida. É possível, mas muito difícil. No Rio a mesma coisa. E nessa trama toda, onde está a esquerda? Direita? Essas duas residem unicamente nos estatutos dos partidos, na militância, nos livros de história e sociologia. Uma nova ordem política surge. A política enquanto práxis publicitária e não mais ideológica.

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