Foi realizado ontem, quarta-feira (29), no auditório da UERJ em São Gonçalo, um ato pelos três meses da morte de Alexandre Ivo, que foi torturado e estrangulado na madrugada de domingo para segunda-feira, 21 de junho. O mote era a prisão dos suspeitos, que estão respondendo em liberdade, agilidade da Justiça e criminalização da homofobia.
Momentos antes do início do ato, a reportagem foi ao encontro de Angélica Ivo, mãe do rapaz assassinado, em um terminal de ônibus da cidade de Niterói (RJ). Angélica está travando uma luta para que os suspeitos sejam presos. A mãe diz que está vivendo o seu luto, mas que agora só vai descansar enquanto ver a justiça feita. Durante o trajeto, longe daquela mãe retraída pela dor, Angélica confessa que tem momentos de angústia por conta do ocorrido.
"Hoje passei o dia inteiro pensando no depoimento do legista na primeira audiência. Fiquei pensando na dor que o Ale passou, no sofrimento que impuseram a ele… As pessoas falam que não devo pensar, mas é impossível não pensar!", desabafa Angélica. Perto do ponto de descida, uma suástica é facilmente vista. Um dos suspeitos, Alan Siqueira Freitas, 23, é simpatizante à ideia nazista.
Alexandre (V)Ivo
O relógio marcava 17h45, a reportagem já estava na cidade de São Gonçalo. A mãe de Ale (como todos se referem a Alexandre Ivo) se despediu temporariamente da equipe. "Vou pra casa tomar um banho", avisou.
Na porta da UERJ já era possível avistar um número considerável de pessoas para o ato. Assim que viram Angélica, foram logo abraçá-la e confortá-la. Dentro da universidade, Marco Duarte, primo de Angélica e de Alexandre, que está ajudando nas mobilizações em torno da tragédia, pendurava os cartazes com dizeres que pediam justiça, criminalização da homofobia e a prisão dos assassinos.
Às 19h, com o auditório lotado, cerca de 100 pessoas compareceram ao ato. A diretora da UERJ, professora Teresa, deu início as falas e disse que gostaria de ter conhecido Angélica numa outra ocasião. "Não tenho palavras, mas entendo que temos que celebrar a vida, a memória do Ale e lutar contra a homofobia", falou.
Em seguida, houve um dos momentos mais emocionantes do ato. Marco discursou e pediu para que todos fizessem barulho. "O meu primo Ale era uma pessoa do barulho, por isso, vou pedir para vocês um minuto de barulho e não de silêncio". E assim, todos fizeram o que foi pedido. Logo após gritaram em coro, três vezes seguidas: "Alexandre, Vivo!".
Posteriormente foram exibidos três vídeos. O primeiro, o mais forte de todos, exibiu imagens da infância, da juventude e da atualidade de Alexandre, neste caso, uma foto com o corpo quando encontrado pela polícia. Os dois vídeos seguintes eram homenagens feitas por amigos e pela irmã de Ale, Paula, que depois da exibição foi ao púlpito falar.
"Costumava conversar com os meus amigos e dizer que tinha nascido em época errada e que gostaria de ter nascido na época das lutas", iniciou Paula. "Que ironia, hoje estou envolvida numa luta por causa do meu irmão, que foi brutalmente assassinado", finalizou fortemente aplaudida.
Muito emocionada, Angélica foi ao microfone. Agradeceu a presença de todos e disse que não vai desistir enquanto não ver os culpados na cadeia. "A luta está só no começo", iniciou Angélica, que ainda confessou aos presentes que está sendo difícil, mas que está transformando o seu "luto em luta".
Quem também propiciou um dos momentos mais emocionantes foi o ex-BBB Jean Wyllys, que está ao lado da família Ivo desde o começo do caso. Jean falou sobre a campanha difamatória, que sofreu durante as eleições por ser gay, e também lembrou de quando tinha a idade de Ale e dos infortúnios que enfrentou por, assim como o homenageado, não se enquadrar dentro das normas da sociedade.
"A homofobia não opera sozinha, está em todos os lugares. Se a homofobia pôs fim ao corpo de menino do Ale, não deixemos que a sua história se apague e façamos que continue vivo na memória de seus familiares e amigos", finalizou Wyllys.
No final do ato, Marco Duarte criticou algumas instituições públicas que prometeram ajuda. "Vamos mostrar para a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) e para a Secretaria de Direitos Difusos, que nos deram as costas, que não vamos ficar acoados. Vamos dar um basta nesta violência. Não vamos mudar o mundo, mas vamos conseguir resolver 1, 2, 3 casos e assim por diante".
Por fim, Angélica disse que a tarefa à frente é "árdua", mas que cada pessoa presente no ato pode levar essa luta adiante e, assim, "aumentamos o número de soldados que querem a justiça feita. Vocês podem multiplicar. Temos que mobilizar e conscientizar. Quanto casos como o do Ale acontecem todos os dias e ninguém fica sabendo?".
Além de toda a energia e revolta no ato, outro fator marcou a noite. A cidade de São Gonçalo está sendo obrigada a ver todos os dias outdoors do pastor Silas Malafaia, onde ele exorta homossexuais. O painel carrega os seguintes dizeres: "Em favor da família e preservação da espécie humana – Deus fez Macho e Fêmea". As organizaçõe locais estão estudando meios de retirar os outdoors. (Veja foto no fim da matéria)
Dois novos atos já estão marcados. O primeiro será no dia 30 de novembro, dia em que Alexandre Ivo completaria 15 anos de idade. O segundo ato será no dia 7 de dezembro, quando será realizada a segunda audiência do caso. Uma vigília na porta do Fórum de São Gonçalo está programada
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