O site A Capa apresenta nesta quarta-feira sua nova coluna de saúde. O titular é o proctologista Paulo Branco, que há anos vem se dedicando a tratar de pacientes gays. Na estreia, o médico responde suas dúvidas sobre o HPV. Confira:
Quais os outros nomes que recebe a doença?
Verrugas genitais, condiloma e crista de galo.
O sangue é uma forma de transmissão?
O sangue não é uma forma de transmissão como no HIV e hepatite.
No homem quais as regiões que ocorrem com maior frequência?
No pênis, na pele do prepúcio, e no ânus, onde é mais frequente na pele perianal, mas pode também acometer o canal anal na sua parte interna.
Quais os sintomas mais frequentes?
A maioria das infecções sao assintomáticas ou inaparentes e de caráter transitório. As verrugas representam a principal forma clínica de apresentação do HPV, a coceira e perda de secreção anal são sintomas frequentes.
Toda verruga genital e HPV?
Não. Em torno de 80% dos casos de verrugas genitais, a causa é o HPV.
Quais os tipos de lesões que devemos nos preocupar?
As verrugosas, manchas escuras ou avermelhadas, salientes ou não.
Tenho verrugas em outras partes do corpo. Será HPV?
Geralmente são causadas pelo HPV e devem ser retiradas porque incomodam, pelo tamanho e estética.
É importante realizar a biópsia?
Na infecção anal, geralmente não é pedido de rotina como para o colo uterino na mulher. Tenho feito durante o tratamento com o laser um teste com um tipo de corante que detecta as regiões que têm o vírus na sua forma subclínica, isto é, sem a verruga aparente. Peniscopia: parceiros e principalmente os ativos que não apresentam verrugas anais, devem fazer um exame endoscópico da uretra peniana para detecção do vírus. Anuscopia: A parte interna do canal anal deverá ser sempre investigada detalhadamente. Os pacientes que me procuram referindo tratamento anterior, geralmente não tinham realizado esta endoscopia e na realidade já saíram da cirurgia anterior com o HPV intrarretal.
Quais as formas de contágio?
Contato com a pele previamente infectada e objetos de uso pessoal, como sabonete, roupas íntimas e objetos sexuais como os brinquedos ou dildos. O aperto de mão, o abraço, o beijo social e o ar não transmitem o HPV. E necessário que existam áreas expostas que permitam a penetração do vírus.
É grande a chance de contaminação pela relação sexual?
Aproximadamente 70% das pessoas que têm relação sem camisinha adquirem o vírus, embora nem todos desenvolvam a doença.
E por que não ocorre em algumas pessoas, apesar do contágio com o vírus?
Felizmente, aproximadamente 60% dos casos apresentam remissão espontânea, isto é, acabam por eliminar o vírus espontaneamente antes de apresentar a doença e sem qualquer forma de tratamento, o que está relacionado diretamente com a resistência ou imunidade de cada paciente.
Como posso saber se estou com a doença?
As verrugas representam a expressão clínica da doença e o médico ao vê-las ou apalpá-las poderá confirmar o diagnóstico.
Quanto tempo leva para aparecerem os primeiros sintomas da infecção pelo HPV?
É chamado em medicina como período de incubação, e poderá levar de três semanas a oito meses.
O sexo oral tem risco de contaminação?
Sim. As verrugas poderão estar presentes na boca, lábios, língua, laringe e faringe.
O HPV poderá se transformar em câncer anal ou pênis?
Sim. O fato de ter o vírus não aumenta as suas chances de ter o câncer anal. Uma Pesquisa feita pelo INCA mostrou que o HPV está associado a até 75% dos casos de câncer de pênis. Alguns autores encontraram uma incidência maior do câncer em pacientes com HPV com fimose ou excesso de pele cobrindo a glande, razão pela qual na minha clinica eu tenho feita a cirurgia para tratamento da fimose associada ao laser.
Qual a melhor forma de tratamento?
Cada médico tem um protocolo de tratamento. O meu que realizo há alguns anos é a associação do laser com medicamentos por via oral e local que aumentam a resistência ao vírus. O médico tem de ter o cuidado de analisar a parte interna do canal anal. Eu não uso ou indico nenhuma forma de pomadas para tratar o HPV e só trato com o laser. Os médicos precisam entender que os gays realizam de forma prazerosa o sexo passivo e que muitos passam horas nas academias trabalhando os glúteos. A pomada usada nesta região poderá determinar cicatrizes e alterações funcionais que abalam a estrutura emocional destes pacientes. Eu ainda não consegui entender a orientação para pacientes usarem estas pomadas dentro do reto.
Como prevenir?
Usando camisinha, evitando a promiscuidade e muitos parceiros. Não esqueça que o HPV é transmitido pelo contato da pele e a camisinha deixa descoberta a base do pênis, regiões pubianas a perineal que poderão transmitir o vírus. Cuidado nas preliminares.
Há cura para o HPV?
Não. Alguns pacientes irão eliminar os vírus com a sua imunologia (anticorpos).
Posso ter relação normal após tratamento do HPV?
O objetivo do tratamento é o bom resultado funcional e estético para que você volte a ter uma vida normal. Eu não gosto do resultado estético das pomadas e eu ao longo destes anos já tratei de pacientes com complicações orgânicas, como o estreitamento anal decorrente do uso das pomadas, principalmente dentro do ânus e reto distal.
E sobre a vacina?
É realizada para a partir dos tipos mais frequentes isolados em laboratório. Existem mas de 170 tipos isolados. Para os homens ainda está em fase experimental. Acredito que será possível em um futuro próximo.
E a associação com o HIV?
As formas mais graves geralmente estão associadas ao HIV, pela diminuição da resistência. Recentemente foi publicado um artigo no qual os autores observaram uma maior incidência do câncer anal associado ao HPV em pacientes portadores do vírus HIV.
* Dr. Paulo Branco é médico proctologista e escreve quinzenalmente nesta coluna. Se você também tiver dúvidas a respeito de sua saúde, escreve para redacao@acapa.com.br.