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Eu amo como meu avô

Minha avó, uma senhora de 71 anos, organizadíssima, cuidadosa, carinhosa a seu modo, de um caráter incrível e pessoa com quem eu passei a maior parte da minha vida até os 15 anos teve que se submeter pela terceira vez a um exame de cateterismo.

E lá fui acompanhá-la, junto a meu avô e meu tio. Exame demorado, delicado, chato. Imagine um caninho entrando pela veia desde a virilha até o coração, resumidamente é isso. Tudo terminado, paciente liberada e lá fui eu ajudá-la a se vestir, enquanto os homens esperavam lá fora (sim, porque na pratica eu só estava lá porque segundo minha madrinha, precisava de uma mulher pra fazer isso. Mas gente, e meu avô? Eles vivem há mais de 50 anos juntos e ele não pode ajudá-la? Enfim, deixa isso pra outro post).

Saindo do ambulatório a enfermeira deu as instruções para que meu tio nos encontrasse com o carro em outra portaria. Enquanto isso meu avô, todo fofo ali do lado da maca, segurando os exames na mão, se abaixou e deu um selinho na minha avó.

A enfermeira brincou: “Ih vocês tem muito tempo pra namorar ainda, fica tranqüilo!”

Em direção ao elevador minha avó disse a ele pra ir junto buscar o carro, mas ele não foi. Ficou ali ao lado dela, se mostrando presente, preocupado, carinhoso e feliz com o alívio dos resultados do exame. Foi ai que me deu um estalo – “eu amo como meu avô!”. Percebi o romantismo, demonstrado em gestos simples ali naquele momento e, reparei que minha vó e as mulheres que já amei (na maioria das vezes duronas) querem sempre mostrar que estão bem, mas o que gostam mesmo é do nosso carinho romântico e olhar preocupado pra elas. E quando elas nos mandam ir pra longe e obedecemos, depois dizem: “Você nem ficou lá comigo!”.

É, as mulheres são assim, dizem algo querendo dizer outra coisa. E o mais legal de tudo é saber que, mesmo 52 anos depois, com manias dele a irritando e ele levando bronca por isso, no caminho de volta ele ainda diz: “Viu só? Passou, era só um susto, tá tudo bem!”. E quando ela faz uma piadinha ainda é chamada de gracinha… hahaha.

Acho que já sei de onde herdei os genes de romantismo, se é que eles existem. Prova disso é esse cartão dado a minha avó pelo então noivo dela no início da década de 50.

Meses quentes

L’amour