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“Eu gosto de ser a voz daqueles que não tem vez”, diz senadora Fátima Cleide

Em entrevista exclusiva concedida ao site A Capa, na sessão de abertura da I Conferência Nacional GLBT, a nova presidente da Frente Parlamentar GLBT, a Senadora Fátima Cleide (PT-RO), declarou que abraça a causa gay por ser oriunda dos movimentos sociais e por gostar de ser "a voz daqueles que não tem vez". Na noite de quinta-feira aparlamentar usava um broche com os dizeres "Direitos Sexuais são Direitos Humanos. Homofobia é crime."

Fátima também é relatora do PLC 122 (que criminaliza a homofobia no Brasil) e declarou que dificilmente o projeto será aprovado ainda esse ano. "Há um longo caminho de tramitação do projeto no Senado". No primeiro dia da Conferência, a senadora declamou um poema após o encerramento da mesa sobre Poliítica e Direitos Humanos. Para ouvir, clique aqui.

Por que a sra. resolveu abraçar a causa gay?

Eu sou do movimento social, da rua. Entrei na política lutando pela sobrevivência. Acredito que as mulheres têm mais sensibilidade para as causas sociais. Enfrentar desafios e causas difíceis tem sido a minha vida e eu gosto de ser a voz para aqueles que não têm vez e nem voz no nosso país.
 
A sra. já foi discriminada por abraçar a causa gay?

Já tentaram. Por abraçar questões tão populares, como a dos indígenas, dos adolescentes e dos GLBTs me exponho a uma avaliação critica. Prefiro entender que recebo criticas na minha atuação na defesa dos direitos humanos da própria sociedade brasileira.

Crê que a Conferência pode ajudar na aprovação do PLC 122?

Com certeza. Em todas as conferencias estaduais o PLC teve grande destaque porque a comunidade GLBT entende que este é o projeto mais importante, é a garantia do livre trânsito e da manifestação da afetividade.

Acredita na aprovação do PLC ainda esse ano?

É difícil. Acredito que teremos muito dificuldade. Devido a uma manobra regimental ele está na Comissão de Assuntos Sociais, depois vai voltar pra Comissão de Direitos Humanos e ainda irá para a Comissão de Constituição e Justiça. Estou trabalhando para construir um acordo de que não haja alteração no texto e que ele não tenha que voltar para a Câmara.

O que a sra. acha da declaração de parlamentares evangélicos alegando que o governo pagar a Conferência é inconstitucional?

Inconstitucional são o pré-conceito e a discriminação. Eu acho a atitude do Lula corajosa. Ela coloca o país numa dimensão de país de primeiro mundo.

A não divulgação dos tramites do projeto ajudaria na sua aprovação?

Não existe esse tipo de coisa no Congresso Nacional. Tudo é feito com muita transparência e o processo democrático exige que assim seja. Já definimos a questão da discriminação da raça, da procedência nacional e falta para aperfeiçoar a legislação darmos a população GLBT.

O que a sra. pensa a respeito do caso do sargento gay preso pelo Exército?

Eu vejo com muita tristeza esse episódio. E ela se dá em função de  ver as pessoas em situação de constrangimento, humilhação pelo fato de ter uma orientação que não a heterossexual. Espero que esse caso sirva para ganharmos força nesse momento para revermos o Código Penal Militar e aprovar o projeto que tramita desde 2006 no Congresso Nacional de autoria da deputada Laura Carneiro, e que busca retirar o termo pederastia do código. Penso que pelo legislativo nós podemos mudar essa cultura de que para ser homem tem que se submeter a situações de constrangimento, humilhação e de violência.

Ouça os podcasts da I Conferência Nacional GLBT

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