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Eu Sou Homem

Já é clichê a máxima de Simone de Beauvoir, “ninguém nasce mulher, torna-se”. Pouca gente, porém, consegue imaginar quando alguém predito para tornar-se mulher descobre que, na verdade, é e sempre foi… homem! Essa situação nada confortável é o tema do documentário “Eu Sou Homem”, lançado esta semana em São Paulo. A produção é do Coletivo de Feministas Lésbicas e do grupo Minas de Cor, com direção de Márcia Cabral e edição de conteúdo de Marisa Fernandes.

O lançamento, que ocorreu terça-feira, dia 29 de janeiro, na Sala Cinemateca, já indica o poder transformador de “Eu Sou Homem”. Compareceu um público díspar, que ia do líder do movimento negro Vicente Ferreiro dos Santos à candidata a vereadora pelo Partido Republicano Dra. Vani, passando pela apresentadora Soninha, gente de teatro, militantes GLBT e muitas autoridades do governo municipal e estadual. Em comum, ao final da sessão, lágrimas nos olhos diante das histórias de vida nada fáceis de quatro homens trans: Nei, Celinho, Xande e Régis.

Na superfície, eles são homens comuns, muitas vezes machistas, todos trabalhadores e preocupados com o sustento do lar, como qualquer pai de família. Mas bastam alguns minutos do filme para perceber que, no íntimo, são pessoas cujo desejo ou qualquer outro fator os levaram a enfrentar qualquer norma ou convenção que os impedisse de serem homens. É assim que os quatro se insurgem contra o comportamento esperado.

Há um despreparo da platéia em geral ao encarar a transexualidade masculina. Por isso a comoção ou a dificuldade de se entrar num mundo onde, para se construírem como sujeitos, esses homens precisam enfrentar problemas que vão do uso do nome à alterações corporais. Aliás, choca não entender como uma solução simples como permitir a alteração dos documentos, de sumo importância para essas pessoas, ainda não seja permitida em nossos cartórios.

São histórias sofridas, permeadas por dramas domésticos e conflitos com as autoridades. Mas “Eu Sou Homem” também revela como é possível rir daquilo que a vida nos impõe. Assim, gargalhamos quando se trata do uso de dildos ou das situações que se assemelham às cômicas farsas do teatro, causadas muitas vezes pela invisibilidade da situação trans, quando esses homens conseguem surpreender com a revelação de que, a princípio, seriam mulheres.

Dois desses homens são figuras conhecidas do movimento GLBT. Xande é o atual presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. Régis é militante em Campinas. Os dois fazem de sua luta pessoal instrumento de transformação. “Eu Sou Homem” deverá percorrer o circuito de festival no Brasil e no exterior ainda este ano. Fique atento e não perca.

* Ferdinando Martins é jornalista e crítico teatral

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