Eu sempre fui meio retrô… Por algum motivo qualquer, desconhecido pelo meu consciente até então, eu sempre me identifiquei com pessoas ou coisas que não eram necessariamente da minha geração. O fato é que a bicha já era vintage, meu amor, e nem sabia… Quer me deixar feliz, é fácil, basta me dar um CD ou DVD da Disco Music pra eu me acabar!
Mas além da música e das roupas, os anos 50, 60 e 70 foram marcados por revoluções bárbaras nos costumes da sociedade ocidental. O babado foi tão forte, meu amor, que os ecos deste período são ouvidos até hoje… Lady Gaga jamais seria tão monster e incendiaria plateias se não fosse o bra-burning, ou queima dos sutiãs que aconteceu em 1968, num protesto contra a realização do Miss America. Beyoncé não seria, talvez, uma mulher negra de sucesso, se não fosse Rosa Parks se recusar a se levantar de seu lugar num ônibus para sedê-lo a um homem branco e por este motivo ter sido presa em 1955. Pouco provável que Amy Winehouse ficasse colocada no palco se os hippies não tivessem feito isso muito antes, levando o lema "sexo, droga e rock&roll" às últimas consequências…
Tá! Bateu um momento saudosista na bicha. É isso?
Não é isso. Até porque, infelizmente, eu não vivi aquela época. Mas tenho a sorte de viver ao lado de inúmeras pessoas que enfrentaram a ditadura militar, a hipocrisia, a tal da moral e dos bons costumes, para se lançarem num mundo novo, sem preconceitos, sem guerra, sem dor… Um mundo onde as pessoas imaginavam que a alegria e a liberdade tomariam conta do poder. Utopia? Sim. Mas foram momentos transformadores e intensos que podem ser percebidos ainda em nosso tempo.
Hoje, porém, vivo perturbada. Nosso mundo parece tão apático, tão sem sentido… Tão sem encaixe! Se outrora a guerra era combatida com o amor, hoje é o amor que é combatido com a violência. Vivemos em um tempo onde imperam a intolerância, o preconceito e a violência.
Felizmente, há ainda um movimento contrário. Pequeno, mas contagiante. Uma ação de pessoas que querem e vão conseguir mudar o mundo: o seu próprio e o do outro. E é justamente assim que acontece a mudança…
Estou falando tudo isso por conta de uma campanha chamada #eusougay, que está rolando pelo Twitter e pelo Facebook. Incrível como o computador que aparentemente distancia as pessoas, tem se mostrado uma ferramenta poderosa na convergência de pessoas com os mesmos propósitos. E este – o #eusougay – criado pela jornalista Carol Almeida, é mais um destes movimentos de internet que vira uma coqueluche (coqueluche era uma gíria dos anos 80).
Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, que foi encontrada morta em Itarumã, Goiás, no último dia 6. Um homem de 36 anos, Cláudio Roberto de Assis, e seus dois filhos, um de 17 anos e outro de 13 anos, foram detidos como suspeitos de serem os autores do crime. O motivo? Homofobia pura! Segundo testemunhas a garota namorava a filha do fazendeiro e a relação não era aceita. A polícia ainda investiga o crime.
No entanto, Carol não teve dúvidas. Indignada com o crime lançou a campanha na internet. Nela, a jornalista convida a todos (gays ou não) para tirarem uma foto com um cartaz, uma folha, um post-it ou o que for conveniente com a seguinte frase: #eusougay, do mesmo jeitinho que se faz no Twitter. As fotos devem ser enviadas para o e-mail projetoeusougay@gmail.com. As fotos serão utilizadas numa videomontagem editada por Daniel Ribeiro, diretor do curta Eu Não Quero Voltar Sozinho.
O endereço do projeto na internet é: http://projetoeusougay.wordpress.com.
Eu já fiz meu carão, escrevi em letra de mão e mandei… Porque homofobia NÃO!
Tá dado o recado… Beijo, beijo, beijo… Fui!