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Ex-homossexuais? Pastor Márcio Retamero critica “conversão” de gays

De uns tempos pra cá, tornou-se cada vez mais comum ouvirmos falar de ex-homossexuais. Homens e mulheres que dizem terem encontrado a "cura" para a homossexualidade, depois que frequentaram algumas reuniões ou terapias individuais e de grupo em instituições como o MOSES (Movimento pela Sexualidade Sadia), o Êxodus Internacional e a ABRACEH (Associação de Apoio ao Ser Humano e a Família). Todas essas instituições estão ligadas às igrejas evangélicas no Brasil.

Os grupos que promovem o que chamam de "reversão" da homossexualidade utilizam métodos que vão desde a regressão ao condicionamento psíquico em vistas de obter o objetivo. Em reuniões de grupo, promovem palestras, propagandeando teorias psicologizantes que não encontram respaldo teórico para seu embasamento. Todos os grupos são unânimes em dizer que o homossexual masculino é fruto da influência de uma mãe autoritária e de um pai ausente; no caso das lésbicas, identificam uma mãe ausente e sem vínculos fortes com suas filhas. Também é comum dizerem que a homossexualidade é consequência de abuso sexual infantil ou de experiências não bem sucedidas com pessoas do sexo oposto. Para eles, homossexualidade é comportamento adquirido e as pessoas não são homossexuais, mas "estão" homossexuais e, por isso, podem deixar a homossexualidade. Estão doentes e precisam de cura.

O Conselho Federal de Psicologia do Brasil, na Resolução 01/1999, estabelece em parágrafo único que os psicólogos brasileiros não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades. Rozângela Justino, psicóloga e membro da ABRACEH, será julgada no próximo 29 de maio pelo CFP em Brasília, exatamente por participar e promover eventos com estas características, além de prestar serviço que desobedece a Resolução.

A homossexualidade, segundo psicólogos e psiquiatras, não é doença, distúrbio e perversão. Por isso, não pode ser "curada" nem "reorientada". Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como doença pela Associação Americana de Psiquiatria, sendo retirada do CID (Código Internacional de Doenças) na mesma época.

Profissionais como Rozângela Justino devem ter seus direitos de exercerem a profissão cassados, pois o que fazem desobedecem as normas que regem suas atividades profissionais. Usam de métodos falaciosos, não mais em vigor, desatualizados, para promoverem seus engodos. O que fazem coloca em risco a saúde mental e até mesmo as vidas de pessoas que ainda não encontraram estabilidade emocional para assumirem suas sexualidades. Não estão a serviço da ciência, estão a serviço de uma fé pervertida e de uma igreja evangélica homofóbica, que precisa ser combatida e desmascarada cada vez mais.

Há alguns anos, esta gente recebeu um duro golpe. Sérgio Viúla, fundador e ex-coordenador do Movimento pela Sexualidade Sadia, saiu do armário e anunciou a todos numa entrevista à Revista Época que era e jamais deixou de ser o que sempre foi: gay! Disse que as pessoas que se declaram ex-gays são pessoas que deixaram simplesmente a prática sexual com pessoas do mesmo sexo. São gays que como alguns heterossexuais se recusam a transar; as consequências disso são conhecidas: tranquilizantes, antidepressivos, comportamentos desordenados e culpa – muita culpa quando acontece de transarem fortuitamente com alguém do mesmo sexo.

Lana Holder, "missionária" brasileira radicada nos EUA muito conhecida no meio evangélico, vivia de norte a sul do Brasil e em outros países alardeando que tinha sido "curada", que era uma "ex-lésbica". Vendia muitos CDs, DVDs e livros sobre o assunto, o que acabou sendo sua fonte de renda. Desmascarada pelo marido da mulher com quem estava saindo, foi abandonada pelos seus irmãos e irmãs da igreja e hoje tenta voltar ao cenário evangélico dizendo-se arrependida e "restaurada" novamente em sua sexualidade. Afinal, precisa comer, vestir e pagar suas contas.

Ted Haggard, pastor fundamentalista de uma mega igreja americana e presidente da Associação de Pastores Americanos, vivia disseminando sua homofobia religiosa nos EUA e outros lugares. Em novembro de 2006, um michê que lhe prestava serviços sexuais veio a público desmascará-lo. Foi deposto dos seus cargos na igreja, demitido da Associação de Pastores e hoje tenta a qualquer custo, o perdão de seus pares. Essa semana mesmo estava no programa da Oprah, ao lado de sua esposa, dizendo-se arrependido e "curado".

O testemunho de ex-homossexuais virou uma indústria no meio evangélico. A maioria deles vende toneladas de CDs, DVDs e livros. Ganham muito dinheiro com isso e passam a depender disso para viver como Lana Holder. Mas a natureza se impõe, o desejo fala mais alto e então vem à tona, não sem muita dor e humilhação, a verdade. Fato é que são pessoas que precisam de ajuda profissional e da verdadeira e única libertação capaz de lhes trazer paz: assumirem pra si mesmos e para os outros quem são e passarem a crer num Deus que não discrimina ninguém, antes, não faz acepção de pessoas, como a Bíblia mesmo afirma.

Quanto aos profissionais da área de saúde e entidades que promovem este tipo de falácia, devem ser combatidos com veemência. A existência deste tipo de coisa coloca em risco a saúde mental e física de milhares de homossexuais. Os parlamentares brasileiros precisam aprovar o PCL 122 urgente! Estejam certos, salvarão milhares de vidas!


* Márcio Retamero, 35 anos, é teólogo e historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói, RJ. É pastor da Comunidade Betel do Rio de Janeiro – uma Igreja Protestante Reformada e Inclusiva -, desde o ano de 2006. É, também, militante pela inclusão LGBT na Igreja Cristã e pelos Direitos Humanos. Conferencista sobre Teologia, Reforma Protestante, Inquisição, Igreja Inclusiva e Homofobia Cristã. Seu e-mail é:
revretamero@betelrj.com.

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