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Ex-sapatão existe

Algumas amigas e conhecidas disseram nesse fim de ano que iam deixar de ser lésbicas, cansaram das mulheres, da instabilidade e da loucura das sapas, das brigas, das traições, dos desencontros, da intensidade mórbida dos relacionamentos sapatônicos.

Fiquei surpresa com a notícia, como é que a pessoa vira ex-lésbica, como é que se deixa de gostar de mulher depois de ter sentido o gosto de possuir e ser possuída por uma, como é que se vive sem aquele cheiro, sem aquela pele, sem … enfim. Embora eu não acreditasse em milagres, respeitei a decisão alheia.

Nem todas conseguiram sustentar seus discursos. Uma delas estava num bar comigo, tomávamos um café, papo vai, papo vem, filosofia sobre o mundo das sapas, de repente, entra uma loura no recinto, alta, gatona, passava léguas de distância da nossa mesa, e eis que a minha amiga recém-hétero pirou o cabeção.

Ficou azul, vermelha, nervosa, desandou a falar que aquela mulher era MARA, era tudo, era bandida, era Flora, era o sonho de consumo da vida dela. Ficavam horas batendo papo no msn pela madrugada, tinham uma afinidade absurda, embora não se conhecessem ao vivo.

Eu disse, ué, cadê toda aquela resolução de 2009, o projeto de “mulher super hétero, o retorno”? Ah, mas aquela mulher era diferente, era especial, era outra coisa, valia a pena dar mais uma chance ao estilo de vida lésbico antes de jogar a toalha, não é todo dia que a gente encontra uma loura que completa a nossa vida. É claro que a minha amiga não deixou de ser sapatão.

Mas teve um outro caso que me fez acreditar em milagres, um verdadeiro fenômeno do comportamento humano. A garota tinha um currículo recheado de ex-namoradas, teve várias mulheres, saiu do armário, viveu intensamente a vida de sapatão, tudo como manda o figurino, aí, de repente, ela termina com a namorada, some da vida da garota, arruma um namorado emo (que, by the way, era seu melhor amigo) e descobre a porta da felicidade.

Ãh? Depois disso, passei a acreditar mais na flexibilidade do ser humano, em papai noel, coelho da páscoa, cegonha e em bissexualidade. A garota respira o novo namorado e faz planos de se casar, ter filhos e viver os próximos cinquenta anos ao lado do rapaz. Fez questão de se escafeder do circuito lésbico, apagou todo o seu passado homossexual, é praticamente uma outra mulher.

Bom, cada uma com suas coisinhas, né? Sorte para menina e pro mocinho. O que importa é ser feliz.

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