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Exclusivo: Delegado do caso “maníaco do arco íris” conversa com A Capa

O delegado da seccional de Carapicuíba, Paulo Fernando Fortunato, está a frente das investigações de um caso que hoje figura em todas as mídias. Trata-se do "o maníaco do arco íris", responsável pelo assassinato de 13 homossexuais, cometidos entre julho de 2007 e agosto deste ano no Parque dos Paturis.

Ontem a noite foi preso Jairo Francisco Franco, ex-PM que é no momento suspeito e um dos principais acusados pelos crimes. O delegado explica que o mandato de prisão preventiva aconteceu após as investigações da ultima vítima que ele teria assassinado em Osasco. "A gente está trabalhando com a certeza de que ele matou a ultima a pessoa no dia 19 de agosto", diz o delegado que acredita ser "ele o principal suspeito, pois há uma correlação entre os crimes".

Na entrevista concedida ao site A Capa por telefone, na noite de hoje, o delegado ainda revela como iniciou a investigação logo após ter assumido a seccional, como conseguiram uma testemunha que garante ter visto uma das execuções. Paulo Fernando Fortunato fala ainda sobre a homofobia na Polícia Militar e o que pensa do acusado. Leia a seguir conversa na íntegra.

Os assassinatos ocorrem desde o ano passado. Por que só agora o caso veio a tona?
Porque eu assumi aqui no mês de setembro e aí fui me inteirar sobre o índice de criminalidade da região. Vi isso aí, era uma investigação que estava sendo feita por um distrito e com poucos recursos, então, entendi que era um caso de muita gravidade e assumi o caso.

A substituição de delegado foi por conta disso?
Não houve substituição de delegado. Acontece que eu sou o chefe e entrei com mais recurso da seccional, mais viaturas. Coloquei quinze homens para essa investigação e isso começou a produzir os resultados. No meio do caminho nós tivemos a greve da polícia e isso atrapalhou um pouco, pós-greve nós retornamos e deu certo.

O que chamou a sua atenção nesse caso? 
Chamou a atenção que eram todos casos de homocidios no mesmo lugar, nesse Parque dos Paturis. Então tinha alguma coisa de estranho, pois são 13 assassinatos e fui verificar isso daí, como as vítimias haviam falecido. Encontrei semelhanças em todos os casos e tudo isso levou a convicção de que se tratava de um serial killer.

Trata-se realmente de um maníaco ou são crimes homofóbicos?
Não, é maníaco mesmo.

Vocês trabalham com a hipótese de mais de um suspeito além do [ex-sargento] Jairo Francisco Franco?
Ainda não houve uma confirmação dessa hipótese, mas não descartamos essa possibilidade. Tudo indica que ele agia sozinho.

Levantam a hipótese de outros PMS estarem envolvidos?
Não há nenhum indicio nesse sentido.

Acredita que boa parte dos policiais militares sejam homofóbicos?
Não, isso é um caso isolado. Não se pode generalizar essa conduta, ele talvez seja realmente uma exceção que não encontra receptividade no âmbito da Polícia Civil. O agente investiga os crimes de qualquer natureza. Matou, tem que ser apurada a conduta seja quem for.

O suspeito também é acusado de outros crimes semelhantes contra travestis. Por que essa pessoa estava em liberdade plena?
Porque no caso do outro homicídio que ele praticou, ele negava a autoria e ainda está sob investigação. Há um inquérito que ocorreu em outubro, então é relativamente recente, ele não foi pego em flagrante, mas está sendo feita a prova indireta da participação dele nesse crime. Ele se hospedou no hotel com o rapaz [a travesti Pamela Peixoto, de 27 anos, encontrada morta com um tiro na cabeça] e registrou a entrada, entendeu? Ele alega que alguém usou o documento dele e que não foi ele, mas tem prova nesse sentido de que era ele.

A testemunha que surgiu no caso [dos assassinatos do Parque] apareceu por livre e espontânea vontade?
Não, nós conseguimos saber que havia uma pessoa que havia testemunhado a execução e tivemos que fazer uma ginástica para localizar. Inclusive com retrato falado dela.

Há quanto tempo esse caso é investigado?
Desde que eu cheguei aqui, em meados de setembro.

O senhor esteve com o suspeito. Como ele reage quando questionado sobre os crimes dos quais é acusado?
Ele é uma pessoa muito fria.

Há indícios verossímeis de que seja ele mesmo o assassino?
A gente está trabalhando com a certeza de que ele matou a última pessoa no dia 19 de agosto. Esse crime está patente que foi ele que praticou. Agora, pela possibilidade dos outros crimes terem sido executados de forma semelhante, ele é o principal suspeito, pois há uma correlação entre eles.

Frente a este crime, onde 13 homossexuais foram assassinados, o senhor acredita que a homofobia deva ser criminalizada?
Isso é uma pergunta de caráter muito pessoal, nessa situação eu me abstenho de tirar valor, porque a minha conduta aqui tem que ser de investigação pura e simples. Mas eu não tenho nada contra a comunidade, inclusive tenho muitos amigos na comunidade.

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