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Executivos abrem a porta do armário e conquistam o mercado de trabalho

Com a chegada da 13ª Parada Gay em São Paulo, é comum veículos de comunicação abordarem assuntos relacionados à comunidade LGBT. Com o jornal Folha de São Paulo, deste domingo (07/06), não foi diferente.

De Julio Wiziack e Cladia Rolli, a matéria abordou empresários que, mesmo com toda a dificuldade, se assumiram no mercado de trabalho, romperam preconceitos e hoje são sinônimos de sucesso no que fazem.

Há oito anos, quando começou a trabalhar na Caixa Econômica Federal, a publicitária Mariana Tavares, de 31 anos, exercia o cargo de analista, no departamento de marketing. No local de trabalho, ouvia diversos tipos de chacotas preconceituosas por um colega que trabalhava na mesma repartição.

"Ele vivia repetindo que o banco estava cheio de gay e sapatão se alastrando que nem erva daninha", diz. "Repetia também que isso [a homossexualidade] era uma peste e que tinham de encontrar um pesticida bom."

Entre as piadinhas estava também a mais frequente, ouvida pela maioria das mulheres que gostam de mulheres. "[Ele] falava que o problema das lésbicas era não ter arrumado um homem que desse conta do recado," conta Mariana.

Em 2005, durante uma greve, Mariana enviou um e-mail aos colegas reclamando por uma aumento salarial e pela igualdade entre gays e heterossexuais. O e-mail chegou até a direção da Caixa Econômica Federal que, após quatro dias, estendeu os benefícios aos dependentes de funcionários de mesmo sexo e proibiu a discriminação no ambiente trabalho.

Atualmente, Mariana é coordenadora de projetos especiais da Caixa, cargo executivo hierarquicamente superior ao do colega homofóbico, que quando encontra Mariana pelos corredores do banco, evita cumprimentá-la.

No começo de sua carreira, o servidor do Banco do Brasil, Augusto Andrade, 53, lembra que quase perdeu uma promoção por ser "assumidamente gay". "O que me salvou foi um "piti" de um dos representantes do banco, que decidia as promoções. Na minha frente, ele disse que os outros não queriam me premiar só porque eu era gay. Acabei conseguindo o cargo," conta.

Augusto não enfrentou mais saias justas no trabalho, "a exposição acabou me protegendo", afirma. Tais fatos fizeram com que o servidor se tornasse o primeiro funcionário a se valer de brechas administrativas para incluir seu companheiro no plano de saúde da instituição. Depois, forçou a entrada dele como seu beneficiário na Previ, o fundo de pensão dos funcionários.

Gerente comercial da TAM, Clovis Casemiro migrou para a área de turismo após ser expulso da escola naval no Rio de Janeiro. "Foi muito difícil para mim e para toda a minha família. Fui trabalhar inicialmente no setor de turismo. Hoje estou em uma companhia que respeita as diferenças", afirma o gerente.

Já Rodrigo Barbosa, de 32 anos, executivo de projetos da IBM, ficava no armário com medo de ser discriminado ou não promovido. Mas, após ser transferido de Brasília para São Paulo, decidiu levar seu companheiro junto. "Incluí ele no plano de saúde. Para isso, tive de me assumir para a companhia", disse.

Direitos
Procuradores do Ministério Público do Trabalho investigam, em sete Estados, dez casos de discriminação por orientação sexual. Já o Ministério do Trabalho em São Paulo chega a receber, por mês, 30 denúncias de discriminação. Dessas, ao menos uma refere-se a gays discriminados.

"A dificuldade em provar as denúncias, aliada ao temor de expor socialmente a vida privada e ao preconceito que está enraizado em toda a sociedade, contribui para inibir as denúncias", disse Otávio Brito, procurador-geral do Trabalho.

Recentemente vieram a público duas ações movidas por homossexuais discriminados no trabalho, em que o Judiciário tem punido, com indenizações que variam de R$ 5.000 a R$ 1 milhão, empresas em que o assédio pode ser comprovado.

Como foi o caso do Bradesco, condenado a pagar indenização que pode ultrapassar o valor de 1 milhão de reais, ao ex-gerente Antonio Ferreira dos Santos, de 47 anos, por assédio moral e discriminação sexual em sua demissão por justa causa.

Em Sergipe, a Justiça trabalhista condenou a BCP (hoje Claro) a indenizar em R$ 5.000 o atendente C.C.P.,  por ele ter recebido um uniforme feminino de uma encarregada de uma loja da operadora para trabalhar. "A empresa foi condenada por imprudência ao fornecer um uniforme -uma camisa com corte feminino. Nesse caso, o assédio ocorreu por ter causado constrangimento", afirma o ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, do TST.

À Folha de São Paulo, a Claro informou que foi o funcionário que optou por usar um uniforme feminino, de tamanho pequeno, porque havia pouca diferença com o masculino (recebido nos tamanhos médio e grande).

A empresa afirma ainda que a demissão não ocorreu por esse motivo e que não aceita nenhuma discriminação.

Números
Apesar dos programas criados em grandes empresas para estimular funcionários a saírem do armário, o número de gays assumidos ainda chega a ser motivo de descrédito para os programas.

Para Marcus Vinicius Siqueira, da UnB e uma das pessoas envolvidas no desenvolvimento do projeto, "o problema é que eles [funcionários gays] não se sentem devidamente protegidos pelos programas para se assumirem". Segundo Marcus, "as brincadeiras de mau gosto e a falta de sanções aos funcionários que discriminam seus colegas de trabalho arranham a credibilidade desses programas."

Ana Paula Diniz, pesquisadora do Núcleo de Estudos Organizacionais da UFMG, diz que chegou a pesquisar “empresas com milhares de empregados e só quatro assumidos".

De acordo os consultores, na IBM, por exemplo, que possui o melhor programa, só 74 funcionários são abertamente gays em um total de 18 mil. No entanto, apesar das falhas, os programas ainda assim são necessários para assegurar aos funcionários homossexuais com relações estáveis benefícios corporativos.

Uma pesquisa da consultoria Mercer realizada com 210 companhias brasileiras de grande e médio portes mostra que, em 2008, 25% delas permitiam aos seus funcionários incluir os companheiros nos planos de saúde e odontológico. Há cinco anos, esse índice era de apenas 8,7%.

Atualmente, na área previdenciária, a Mercer estima que metade das entidades de previdência fechada (públicas e privadas) prevê o pagamento de pensão aos parceiros de mesmo sexo em caso de morte do titular do plano.

As estatais estão na dianteira desse processo ao conceder o benefício. Na Previ, fundo dos funcionários do Banco do Brasil, já existem 200 casais gays inscritos.

Nos sindicatos, negociações trabalhistas também avançam, incluindo benefícios a funcionários homossexuais e a seus companheiros nos acordos coletivos de categorias. Em 2008, sete acordos dos 220 acompanhados pelo Dieese previam a extensão de direitos a dependentes gays. "São poucos acordos, mas os homossexuais estão buscando ampliar seus direitos. É um sinal positivo", diz Luís Augusto Ribeiro da Costa, técnico do Dieese.

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