Essa é a pergunta que faz o novo seriado, "Macho Man", da Rede Globo. E que o jornal mais que sensacionalista, o "Agora", traz em sua capa com o testemunho e a foto de uma ex-bibinha… Sei…
"Macho Man" (já detestei o nome cafona!) é um seriado de Fernanda Young e Alexandre Machado com direção de José Alvarenga Jr. Nele, o cabeleireiro Nelson (Jorge Fernando), que é gay, depois de um acidente onde a bota de uma drag cai em sua cabeça (numa boate que se parece em nada com uma casa noturna do nosso tempo, parecendo mais uma boate dos anos 80), começa a ter interesse por mulheres, se tornando assim um ex-gay… Jorge Fernando diz estar contente com o papel "tão legal e tão bem construído", segundo ele. Porém, o que vi na telinha não tinha nada de construção, apenas um clichê bem estereotipado de uma maricona. Se não fosse por Marisa Orth, o seriado seria um total desastre. O pior é Jorge Fernando dizer que "eu acho que é um programa superfamília, apesar do tema". Como assim, querido? Porque a temática é gay, então não é algo que a família brasileira que assiste a Globo não possa ver? Uóóóó, hein? É assim que se quer atingir a todos os públicos e se quebrar o preconceito? Aviso que está indo pelo caminho errado…
O jornal "Agora" (quero deixar claro que não leio este jornal, mas, enquanto comprava algo mais interessante, vi a matéria de capa), aproveitando a carona do cometa global, trouxe o testemunho de um rapaz de 23 anos que se diz ex-gay por conta de sua fé… É claro que não li a matéria, mas nem é necessário, meu bem… O texto é um velho conhecido de todos nós. A bichinha que encontra Jesus nas águas e, a partir daí, ela fecha o "edi" pro mundo. Afinal, é o que dizem e o que ela acredita que Deus quer. Mas em igrejas está cheio de ex: ex-gay, ex-prostituta, ex-drogado, ex-bandido, ex-artista (com a perda da mídia, apelam para o público gospel)… Na verdade, igrejas no geral, pra mim, são uma concentração de ex-pessoas, pois a partir do momento que encontram a salvação perdem a essência de quem realmente são em nome de um discurso religioso hipócrita e alienador. Enfim… Deus sabe o que faz!
O fato, meu amor, é que essa pergunta sobre o mito do ex-gay sempre vem à tona. Seja através do discurso religioso, seja pela mídia sensacionalista, seja até por um discurso pseudocientífico. Mas o que se esconde atrás desta perguntinha, aparentemente, tão inofensiva?
Nas entrelinhas desta questão podemos perceber o seguinte discurso: será que é possível trazer à normalidade algo que está anormal? Afinal de contas, o contrário nunca é questionado, mas eu pergunto: existe ex-heterossexual? O fato de não se perguntar sobre o fato de ser ex-heterossexual é que tanto a religião quanto a mídia e até a ciência ostenta o paradigma da heteronormatividade. Ou seja, o mundo é heterossexual em essência e fugir deste padrão é anormal, por isso, a qualquer momento (sonham as cabeças preconceituosas) o processo poderá se reverter para a "normalidade". Tá boa, né Alice?
Eu concluo da seguinte forma: não existe ex-gay. O que pode acontecer são duas coisas, ou a pessoa é bissexual e, por ter esta condição sexual, ela poderá, a qualquer momento de sua vida, orientar seu desejo para um dos sexos pelo qual ela já tem atração; ou então, o tal "ex-gay" não deixa de ser gay, mas apenas sublima sua sexualidade e seus desejos e cria um mundo de fantasias sobre sua nova condição, para viver segundo os padrões que lhe foram impostos e ele aceitou.
Tá dado o recado… Beijo, beijo, beijo…
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