O debate sobre homoparentalidade promovido pela distribuidora Imovision – responsável pelo lançamento no Brasil do filme ‘Baby Love’ na noite de ontem, no Reserva Cultural, foi marcado por dois principais momentos: a fala de pais homossexuais, que tem filhos adotivos e a fala de especialista no assunto paternidade e adoção.
A intermediação ficou a cargo do jornalista e crítico de cinema do jornal Folha de São Paulo, Christian Petermann, que citou exemplos sobre recentes produções cinematográficas e televisivas sobre o tema.
Paulo Borges, empresário e diretor do São Paulo Fashion Week. e o jornalista Leão Lobo falaram sobre suas experiências enquanto pais e homossexuais. "Foi uma coisa que mudou minha vida. Minha irmã falou: ‘Leão, você tinha que olhar o seu semblante antes e de ser pai, você está com uma cara muito mais feliz’", disse o apresentador.
Paulo falou também sobre a repercussão na mídia de quando adotou seu filho. "Não tinha entendido muito bem, sou um cara conhecido, mas não sou famoso. Aí parei para analisar e vi que tinha alguns fatores. Meu filho é negro, já tinha mais de um ano quando o adotei, eu sou solteiro e homossexual. Devo ser 0,001%", disse.
O empresário comentou também sobre o processo de adoção. "Foi muito simples. É mais fácil e menos burocrático adotar um filho do que conseguir financiamento de casa própria num banco", afirmou. Paulo fez críticas ao perfil das pessoas que pretendem adotar filhos no país. "95% querem menina branca e recém nascida. Isso pra mim não é adoção, é substituição. Tipo: ‘não posso ter filho, vou adotar uma criança’. A adoção é um ato de amor incondicional", declarou.
O evento teve finalidade bastante esclarecedora, merece destaque e menção a participação da psicóloga Vera Moris e do juiz de direito Dr. Eduardo Rezende Mello. Ambos contribuíram para a quebra de paradigmas e velhos estereótipos.
Questionada sobre a falta de um referencial masculino ou feminino para uma criança com pais homossexuais, Vera foi enfática ao afirmar que "o que importa é que ela seja protegida, amada e cuidada. A criança precisa de pessoas que sejam capazes de fazer isso, independente de sua orientação sexual".
Já o juíz afirmou não considerar "tão importante ou necessária" a legalização da união civil entre homossexuais para a questão da adoção. "A adoção tem que ser discutida a partir do ponto de vista do que é melhor para a criança. O fato de estarem casados não quer dizer que serão bons pais. Não há tanto a necessidade de ter isso ‘institucionalizado’. Há muitos casais heterossexuais que também são indeferidos do processo", afirmou.
Para o juiz, o momento é de discussão sobre qual deve ser o novo entendimento das relações familiares. "Se elas se dão mais por um viés antropológico-social-cultural ou por laços biológicos".