A produção da série documental Fora do Armário, que estreia nesta quinta-feira (5) na HBO, teve dificuldades para conseguir depoimentos de pessoas famosas, mesmo as assumidamente homossexuais. Somente duas celebridades, Thammy Miranda e Jean Wyllys, aceitaram relatar suas experiências para as câmeras da série. “Essa foi a única surpresa um pouco negativa ao longo dessa produção. Abordamos várias pessoas que até já assumiram, timidamente, sua orientação sexual. E muitas delas recusaram, não se sentiram confortáveis para se estenderem nesse assunto. A gente achou isso bem esquisito. É importante para o Brasil falar sobre isso abertamente”, lamenta Guto Barra, diretor de Fora do Armário. O episódio sobre famosos assumidos é o sexto da série e conta com Jean Wyllys, ex-BBB e deputado federal que luta pela causa LGBT no Congresso Nacional, e Thammy Miranda, filho de Gretchen que nasceu mulher e passou pelo processo de transição de gênero totalmente em público, com posts frequentes das novidades em seu corpo nas redes sociais. A família de Thammy também aparece na série, que procura mostrar depoimentos das pessoas próximas e retratos da vida cotidiana deles, como um café da manhã. Segundo a diretora Tatiana Issa, a ideia é desmistificar e mostrar a humanidade em pessoas gays, bissexuais, transexuais e transgênero. “A grande maioria das reportagens e programas [de TV] focam em aspectos mais negativos, muitas vezes com certo sensacionalismo. Nossa abordagem é para continuar mostrando, claro, as dificuldades que envolvem esse universo, mas também como eles conseguiram superar vários problemas, várias barreiras na vida. Até para normalizar alguma coisa. Alguns dos momentos mais fortes que a gente vê na série vêm de cenas banais do dia a dia”, afirma. Choro todo dia Cada um dos dez episódios de Fora do Armário aborda um assunto diferente da comunidade LGBT. Entre eles, o conflito de jovens gays com suas religiões, a cena de drag queens, pessoas idosas que são transgênero e pais que revelam aos filhos que são gays. A própria diretora passou por um caso assim em sua família (o pai dela se assumiu homossexual) e diz que sua experiência em casa facilitou na condução das histórias dos personagens. “O fato de eu ter tido uma vida pessoal que se mistura com a vida deles talvez tenha deixado a coisa mais íntima. A forma carinhosa com que a gente abordou fez com que eles se abrissem. Foi a primeira vez em que a equipe se envolveu tanto numa série. A gente chorava todo dia, mexeu com todo mundo, transformou. Todos se identificaram de uma maneira ou outra, porque são questões humanas, todo mundo tem pai, ou filho, irmão, passa por conflitos familiares”, opina. Com muitos depoimentos emocionantes, imagens de álbuns de família e histórias de todas as regiões do país, Tatiana espera que o público consiga enxergar mais e julgar menos os outros por suas orientações sexuais. “A gente espera que as pessoas entendam que aceitação é o melhor caminho. As histórias são complicadas em todo lugar, [a série] é um retrato do Brasil também. Eu espero que as pessoas consigam entender que, quanto mais a gente ouve essas histórias, mais a gente entende que no final de tudo, depois de tanta luta, dor, tristeza, complexidade, o que sobra é o amor. Que essa seja a mensagem”, conclui. Fonte: Noticiasdatv