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“Feminismo e racismo não são exclusivos de mulheres e negros”, diz Berenice Bento

Dando continuidade ao Ciclo de Debates do 13º mês do Orgulho LGBT de São Paulo foi realizado ontem, no Conselho Regional de Psicologia (CRP), uma discussão a respeito da liberdade de gênero com base no filme "XXY", da diretora Lucia Puenzo, que retrata a vida de Alex, jovem intersex que quer ter a liberdade de decidir sobre o seu corpo.

Participaram da discussão a socióloga Berenice Bento, o psicólogo Murilo Moscheta e, mediando o debate, Alessandra Saraiva, coordenadora da TerçasTrans. Um dos pontos altos foi a questão da intervenção cirúrgica obrigatória nos sujeitos intersex, fato que Berenice considerou um "horror". Ela disse que essas cirurgias "são umas aberrações e têm que ser denunciadas". "Temos que romper o silêncio", enfatizou a socióloga.

A respeito do filme, Berenice disse que ele traz uma questão muito cara aos/as trans e intersex, que é a questão do reconhecimento. "O filme traz a questão do afeto, do amor", declarou. Ela disse ainda que é muito comum, por conta da invisibilidade e do não reconhecimento social, "a depressão e o suicídio entre essas pessoas, por isso o reconhecimento delas é necessário".

Em seguida, Berenice Bento lembrou que além do preconceito da sociedade, as pessoas trans ainda enfrentam resistência até mesmo com feministas que não reconhecem as mulheres trans enquanto gênero feminino. Para ela, "o feminismo não tem nada a ver com mulheres no sentido biológico, é uma questão política". "O racismo não diz respeito apenas a cor, é discriminação e também é uma questão política. O feminismo e o racismo não são uma exclusividade de mulheres e negros", afirmou. 

A socióloga e pesquisadora da questão trans também disse que o sistema "falha e que os corpos escapam a todo momento". Lamentou ainda o fato das teorias psi considerarem a homossexualidade e a transexualidade um transtorno. "Sejamos sinceros, todos nós sabemos que no cotidiano dos consultórios eles trocaram a palavra doença por transtorno", disse Berenice.

Por fim, Berenice Bento conclamou que se retire a transexualidade da lista de doenças. "Que história é essa de ‘gênero normal?’ O gênero é uma questão de política", destacou. Segundo a socióloga, por um bom tempo se vendeu a ideia de que "seríamos felizes com os nossos corpos e isso ficou provado que é uma grande mentira". No final, ela voltou à questão do feminismo e do lugar da mulher na sociedade. "Quando disse que o feminismo é uma questão política é pelo seguinte: basta analisarmos a posição do gay afeminado entre os homossexuais. O lugar do feminino na sociedade será o da deslegitimação", finalizou Berenice, que foi muito aplaudida pelo público presente.

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