Num sábado escaldante, uma comemoração de niver na Zona Leste de Sampa. Pra complicar um pouco mais, o aniversariante é hetero e a maioria de seus amigos também. Com este roteiro em mão, meu namorado e eu partimos rumo à periferia de SP já pensando nas horas intermináveis de papo chato e não-abraços e não-beijos. Fique claro que adoro meu amigo Junior. Chegamos cedo à festa. Na verdade fomos os primeiros. Geladeira cheia de comes e bebes, penso: “Posso, pelo menos, encher a cara”. Começam a chegar os outros convidados. A mãe de meu amigo e alguns outros parentes, incluindo algumas crianças, aparecem logo. Puxando papo com meu namorado, a mãe de Junior (que se diz bruxa) começa a discorrer sobre os poderes das pedras e cristais em nossa vida. Neto, pragmático e ateísta até a medula, porém muito educado, ouve a “bruxa” com paciência. Até que ela, pra arrematar o assunto, diz que, quando jovem, conheceu um casal de lésbicas e elas tornaram-se grandes amigas. Desde então, ganhamos mais uma simpatizante da causa. Chega outro amigo de Junior e levo um susto. O outrora machão e hetero convicto está totalmente diferente, da cabeça aos pés: Nike colorido, calças agarradinhas e camiseta com estampas alegres. Já desconfiava que essa figura gostasse da fruta, mas confesso que fiquei surpreso com tamanha mudança. Outro convidado chega com cabelos descoloridos e um rebolado que deixaria até a Carla Perez com inveja; depois um punk já na casa dos 30, com filho e tudo; mais tarde, alguns skatistas, duas jovens em salto agulha e outro que parecia hetero, mas pegava no pau toda vez que olhava para mim e meu namorado. Não sei se foi o álcool, mas lá pelas 3h estamos todos conversando animadamente. O punk com o ex-machão de Nike, o dos cabelos “loiros” com os skatistas, que falavam com as patricinhas, que trocavam idéias com o aniversariante. E meu namorado e eu saboreávamos o churrasco e as caricias típicas de um casal apaixanado.
