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Festa Post It! mostra um novo universo da cena noturna gay

De tempos em tempos surge uma festa divisora de águas no cenário noturno paulistano. Uma festa que lança modas, reforça tendências e interfere nas atitudes, marcando época. Foi assim com o Massivo no início dos anos 90, com o antigo Hells na metade da década de 90, com o Grind na Lôca a partir de 98 e com a Bafon Bafu no Glória há alguns anos. E agora acontece a Post It!

Criada por Lalai Luna, DJ e festeira, e Phelipe Cruz, criador do blog Papel Pop, a festa acontece na primeira sexta-feira de cada mês, no Vegas, há um ano. E cada vez mais sublinha sua presença. Sempre lotada em filas que começam a se formar na Rua Augusta por volta das 22h15 – sendo que a casa só abre as portas depois das 23h30 -, a Post It! mostra seu poder de "praia noturna". Se no Rio de Janeiro a praia é o grande palco para as novidades, na falta de litoral a metrópole paulistana se abastece na vida noturna mesmo.

E o que se vê na festa é um celeiro de "novos gays". Contando com um grande contingente de adolescentes misturados às mulheres, héteros, gays alternativos e/ou modernos, o resultado é um mosaico basicamente juvenil.

Quem diria que um dia teríamos uma noite com garotos teen pendurando-se em barra de pole dance, berrando letras inteiras de Beyoncé, Ke$ha, Mariah Carey e – nem precisa dizer – Lady Gaga, a diva-mor do local? Gaga é escutada pelo menos cinco vezes na mesma noite, na pista de cima ou na de baixo, às vezes até com músicas repetidas.

Mas ninguém se importa. O clima geral é de euforia e deliciosa histeria. No telão, em edições anteriores da festa, o que se via era uma colagem de gifs e micro-cenas hilariantes estreladas por gente como Madonna, Michael Jackson, Britney Spears e congêneres, além de anônimos tresloucados, cartoons, emoticons e barraqueiros da internet – aliás, está fazendo falta esse desfile bizarro no telão, por quê parou?

Contrariando e ao mesmo tempo confirmando a polêmica reportagem da revista Veja sobre jovens gays, a Post It! mostra que: ao contrário do que diz a publicação, os "novos gays" frequentam casas noturnas gays sim, principalmente quando se identificam com a festa em questão; e sim, como mencionou a reportagem, a nova geração vive um clima mais arejado e despreocupado em relação à sexualidade, pelo menos nas camadas mais abastadas e urbanas da população.

E é essa camada que está na Post It!, disparando tendências a partir de referências coletadas, naturalmente, na internet. Se antigamente o visual gay podia ser rastreado na noite em dois tipos básicos – a chamada bichinha "poc-poc" ou "quá-quá", que vestia roupas justas e coloridas; e a bicha fina, que usava roupas de grife e fazia a linha "mauricinho gay" -, na Post It! surge uma galeria de estilos.

Nerd, geek, bichas-Glee – seguidoras da badalada série -, verão, high-fashion, paniquettes, neo-Serginhos, nostálgicos, usuários de chapéus, óculos de grau, adeptos do tênis sem meias, enfim, uma babel de gêneros, sem querer estereotipar nada, nem ninguém. E esse é um dos grandes charmes e méritos da festa – consegue abarcar uma pluralidade de pessoas.

Era isso que rolava no período áureo da festa Grind, na Lôca, entre 1998 e 2005. A democracia marcava a noite. Por essas e outras, a Post It! pode ser considerada "o novo Grind" – assim como acontecia naquela, adolescentes gays se jogam e fazem da festa palco de sua sexualidade.

Com isso, a festa acaba se tornando um retrato social, cultural e – será exagero? – antropológico de um momento bombardeado por Twitter, Facebook, blogs e a irreverência geral.

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