O 6º Festival de Cinema Latino-Americano abriu na segunda-feira (11), em São Paulo, e segue até o domingo 17, reunindo curtas, médias e longas-metragens produzidos na América do Sul e Central.
E pela primeira vez o evento traz uma programação dedicada à temática LGBT. Com curadoria de Suzy Capó, esse bloco do festival foi batizado de "Soy Loca Por Ti, America!" e traz desde clássicos como os longas brasileiros "O Menino e o Vento" (1967, do argentino radicado no Brasil Carlos Hugo Christensen, um dos grandes cineastas que atuaram por aqui) e "Vera" (1986, com Ana Beatriz Nogueira), até produções mais recentes, como o argentino "Ausente" (2010, foto).
O site A Capa conversou com Suzy, que falou sobre essa iniciativa e a questão LGBT no cinema brasileiro e mundial nos dias de hoje, incluindo a presença dessa temática em festivais e mostras. A programação da mostra está no SITE do Festival.
Como surgiu a programação gay dentro do Festival de Cinema Latino?
A ideia surgiu da constatação de que o segmento LGBT e as questões relacionadas a ele estão cada vez mais visíveis também nos países da América Latina. Consequentemente, elas ganham mais presença na cinematografia dos países que constituem esse território. Achei que seria uma boa ideia apresentar esses filmes nessa vitrine, para formar um novo público para o cinema LGBT da América Latina e também trazer um novo público (o público LGBT) para o festival. Felizmente, a ideia foi muito bem recebida pela direção do festival.
Você acredita que a ligação entre o cinema latino e o cinema gay está maior atualmente, depois de filmes como o CONTRACORRENTE?
Acho que "Contracorrente" é um filme muito bem-sucedido, que ganhou 45 prêmios em festivais de cinema internacionais, latinos e LGBT. Pode até parecer que ele está desbravando caminhos. Mas eu acho que a ligação do cinema latino e o cinema gay vem se estreitando porque as questões LGBT estão ganhando importância e ganhando visibilidade em vários países da América Latina.
Fale um pouco sobre a escolha dos filmes para a Soy Loca Por Ti, America! Como foi essa curadoria?
Como essa é a primeira edição da mostra, os organizadores do evento me pediram para fazer uma mostra histórica, com filmes que tivessem uma importância dentro da história do cinema LGBT, principalmente pelo impacto que tiveram dentro de um contexto social e cinematográfico mais amplo. Também procurei incluir o maior número de países possíveis, dentro das limitações de grade etc. A mostra cobre mais de 40 anos dessa história, tendo início em 1967, ano de produção de "O Menino e o Vento", chegando aos dias atuais, com "Ausente", que ganhou o Teddy Award para melhor longa-metragem com temática LGBT do Festival Internacional de Cinema de Berlim.
Você acha que a inclusão de mostras e premiações gays dentro de festivais não gays é uma tendência mundial? O que isso pode significar para o futuro do cinema LGBT?
Parece que sim. O Teddy Award já é tradicional, tem mais de 20 anos, mas nos últimos 3 anos os festivais de Cannes e Veneza também ganharam prêmios equivalentes ao Teddy Award. Ainda que não tenham a importância do Teddy Award, esses prêmios abrem mercado para os filmes com temática LGBT.
Como você vê a atual cena do cinema brasileiro, em termos gays? Você acha que a temática tem sido bem representada?
O segmento LGBT ainda é muito pouco representado no Brasil, mas as formas de abordar essa temática estão mais interessantes. Mesmo filmes com personagens LGBT estereotipados, como por exemplo "Elvis & Madona", abordam o tema de maneira positiva, não comprometem a integridade de Elvis e Madonas da vida real. Da sua própria maneira, esse filme celebra a livre expressão da sexualidade. O que a gente precisa é de mais cineastas gays e lésbicas que se comprometam com o tema, não para levantar bandeiras, mas para trazer para a tela de forma mais autêntica a experiência homossexual.