Estreia na próxima sexta-feira (15) em circuito nacional o filme "Como Esquecer", novo longa-metragem de Malu De Martino que tem Ana Paula Arósio e Murilo Rosa no elenco.
No filme, Arósio vive Julia, professora de literatura inglesa que tenta recomeçar a vida após se separar da namorada. Murilo Rosa interpreta Hugo, o melhor amigo gay de Julia, que perde o companheiro, vítima de um câncer, mas reencontra o amor com Nani (Pierre Baitelli).
"Como Esquecer", que teve sua primeira exibição durante o último Festival do Rio, é mais uma aposta de Malu De Martino no universo feminino. Com um olhar sensível sobre a perda, a diretora se preocupa em mergulhar fundo na dor que cada personagem enfrenta, fugindo do risco de transformar a trama em um insuportável dramalhão.
Nesta entrevista exclusiva, Malu De Martino explica por que resolveu investir na história de amor entre duas mulheres, revela que teve dificuldades em buscar patrocínio para a produção e acredita que rodar um filme com a temática homossexual faz parte de uma "evolução" que já pode ser vista na TV. Confira a seguir:
Por que filmar a história de um amor entre lésbicas?
Quando li o livro "Como Esquecer- anotações quase inglesas" da Myriam Campello, encontrei uma história bonita e sensível sobre o sofrimento que experimentamos quando perdemos alguém que amamos. O fato de a personagem principal ser lésbica não me intimidou.
Como foi convidar dois atores globais, Ana Paula Arósio e Murilo Rosa, para participar do longa-metragem?
Considero esses atores muitos bons e talentosos. Também não me intimida o fatos deles pertencerem ao elenco da TV Globo. Trabalhar com eles foi uma honra para mim.
O filme tem imagens eróticas e explícitas entre mulheres, mas o mesmo não acontece entre o personagem de Murilo e do Pierre Baitelli. Por quê? É algum tabu?
Não, nenhum tabu – é só a maneira como a historia é contada. A cena de sexo entre Julia e Helena é mais uma forma de mostrar as tentativas da professora para sair da depressão que toma conta dela depois da separação.
Seus dois últimos filmes – "Mulheres do Brasil" e "Ismael e Adalgisa" – focam na natureza feminina. Você pretende continuar dedicando seu trabalho ao universo feminino, já que "Como Esquecer" também privilegia esse tema?
De fato, o universo feminino é bem confortável para mim, gosto de falar sobre ele.
"Mulheres do Brasil" é um filme de aspectos televisivos e "Ismael e Adalgisa" é "cinemão clássico". Em "Como Esquecer" você optou por discutir temas mais atuais. Como aconteceu essa escolha estética?
As histórias propõem, cada uma a sua maneira, a linguagem com a qual elas devem ser retratadas. "Como Esquecer" é um filme intimista que se passa dentro dos personagens, nos seus sentimentos mais profundos, o que requer um tratamento diferenciado.
Você teve alguma dificuldade para conseguir patrocínio devido à temática homossexual do filme?
Sim, ainda há muita resistência das empresas em associar o seu produto ao universo LGBT. Entretanto, existem instituições que já trabalham as questões de gênero há algum tempo e por causa delas conseguimos realizar o "Como Esquecer", são elas: A SPM (Secretaria de Políticas para as Mulheres), o Banco do Brasil e a Petrobras.
Como você enxerga a representação da lésbica e do gay hoje em dia na TV e no cinema? Ela é ainda carregada de preconceitos ou houve uma evolução?
Acho que ainda há muito a ser feito. Acabar com as caricaturas já seria um bom passo. Mas vejo uma evolução sim. São raras as novelas que não têm personagens gays, por exemplo, e o fato de ter conseguido filmar o "Como Esquecer" também faz parte desta evolução.
Qual é sua expectativa em relação à reação do público que assistirá a "Como Esquecer"? Acredita que ela será positiva ou a temática homossexual ainda afasta a audiência brasileira?
A comunidade LGBT quer se ver? Quer se reconhecer nas telas do cinema? Vai se mobilizar para isso? Sinceramente acredito nisso. Apesar de o filme ser de sentimentos comuns aos adultos e por isso deve ir além dessas comunidades, dois dos personagens principais são homossexuais. Vamos saber a resposta para sua pergunta (e as minhas também!) quando o filme entrar em cartaz e contabilizarmos público.
Pode nos contar quais são seus próximos projetos?
O meu próximo filme é o documentário "Margaret Mee e a Flor da Lua", sobre a artista Margaret Mee e seus diários retratando a flora amazônica. Também estou lendo alguns roteiros e livros para elaboração de um próximo projeto.
* Colaborou Lufe Steffen