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Filme de Tom Ford é sobre o mais cruel dos sentimentos: a solidão

Se for preciso classificar o filme de Tom Ford como sendo o "filme gay do ano", que assim seja. Mas "Direito de Amar" (A Single Man, 2009), que estreia nesta sexta-feira (5) no país, passa longe desse rótulo restritivo e expõe, com coragem e desprendimento, a fragilidade do homem perante a morte.

Da produção ao elenco, passando pelo roteiro (adaptado do romance do escritor Christopher Isherwood), tudo em "Direito de Amar" é de uma beleza arrebatadora. A câmera de Ford passeia dolorosamente pelas memórias de George Falconer (Colin Firth, que concorre ao Oscar pelo papel), um professor inglês de 58 anos que perde o companheiro (Matthew Goode) num acidente de carro. O luto desse professor é apresentado em flashbacks dramáticos, que surgem às vezes como um quadro expressionista, carregado de cores fortes e vibrantes. Em outros momentos, as recordações aparecem pálidas, conduzidas por uma câmera lenta, que revela detalhes de uma relação intensa e duradoura e que chegou ao fim de maneira inesperada.

A sensibilidade do olhar poético do diretor recai sobre a interpretação primorosa de Firth e na participação curta mas pontual de Julianne Moore, que vive Charlotte, a melhor amiga do professor. É ela quem tenta tirá-lo do luto profundo no qual mergulhou após a morte de Jim (Goode). Acontece que George é um homem que insiste em viver no passado. Nem mesmo as investidas de seu aluno Kenny (Nicholas Hoult), que busca um mentor e talvez algo a mais, convencem George a seguir em frente.

O contexto histórico que serve como pano de fundo para o filme ajuda a aprofundar ainda mais a dor que George experimenta. A chamada crise dos mísseis, um dos pontos ápices do conflito entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos, em 1962, funciona como grande metáfora para uma das cenas mais tensas do filme: após separar documentos pessoais, George se prepara para morrer. Assim como o temido "botão vermelho", que poderia desencadear uma guerra nuclear sem precedentes, estaria o professor preparado para puxar o gatilho e acabar de vez com a sua existência?

É esse impasse que marca a vida de George. Com dificuldade para esquecer o amado, o professor encara o soar do relógio de maneira mecânica e aguarda, com ansiedade e frieza, pelo fim de mais um dia. Retrato amargo de uma perda irreparável, "Direito de Amar" é um filme sombrio, mas incrivelmente belo, sobre o mais cruel dos sentimentos: a solidão.

Polêmica

Antes mesmo de chegar aos cinemas, "Direito de Amar" já gerava discussão nos Estados Unidos, onde estreou em dezembro.

Primeiro, por ter recebido a temida classificação "R" (Restricted, o equivalente no Brasil a "para maiores de 18 anos"). Apesar de explícitos beijos gays entre os personagens de Colin Firth e Matthew Goode, não há nada no filme que possa ser considerado "impróprio para menores".

A imprensa norte-americana também chegou a questionar o posicionamento da distribuidora, a The Weinstein Company, pela escolha das fotos dos cartazes de divulgação, que não revelam o evidente apelo gay do filme. Em entrevista ao site "BlackBox", Julianne Moore explicou que a intenção de Tom Ford não era impor um rótulo ao seu longa-metragem. "Isso fez com que o filme parecesse uma comédia romântica, o que ele não é", comentou a atriz. "Na verdade, é um filme sobre o amor universal."

No Brasil, a Paris Filmes também preferiu utilizar uma imagem, digamos, mais conservadora, destacando no cartaz os dois atores – Colin Firth e Julianne Moore. Se a ideia era atingir um público mais amplo, o objetivo foi alcançado.

Assista ao trailer de "Direito de Amar" no player abaixo:

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