Não é novidade que filmes que abordam a homossexualidade dificilmente conseguem patrocínio. No entanto, com uma global no elenco, o diretor Bruno Barreto pensou que seria diferente. Ledo engano.
"O Brasil é um país falsamente, aparentemente liberado. No fundo, é um dos países mais moralistas que existem, é racista. Não conseguimos um tostão de nenhuma empresa. O dinheiro que temos até agora é do Fundo Setorial, do BNDES, de instrumentos estatais, e da Globo Filmes,
Telecine e Imagem Filmes", declarou o diretor, que pretende filmar o longa "Flores Raras".
O filme conta a história de amor entre Lota de Macedo Soares, arquiteta carioca que projetou o aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, e da poetisa americana Elizabeth Bishop. Para viver a arquiteta, foi escalada a atriz Glória Pires.
Em entrevista à coluna Mônica Bergamo, no jornal Folha de São Paulo, Barreto afirma que a personagem de Lota terá um carro que aparecerá bastante em cena. No entanto, "várias montadoras foram procuradas para um "product placement" [merchandising] e nenhuma topou."
O diretor diz ainda que o "não" vem de forma sútil quando o assunto é negar patrocínio. "Ah, não é o perfil", argumentam. "Até que um diretor de marketing falou "você está tendo essa dificuldade porque é uma temática gay [sic] e realmente não é o perfil da nossa empresa'", revelou Barreto.
Mesmo com a dificuldade em adquirir a verba, o diretor afirma que não desistirá do longa. "Temos uma linha de crédito num banco grande. Fico triste, porque vivemos um momento ufanista, mas temos que baixar a bola um pouco. Existem problemas estruturais na nossa cultura. A gente não é tão moderno quanto acha", declarou.