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Filme “Tomboy” faz retrato delicado da infância vivenciada em um corpo estranho

De longe, o cinema tem sido a mídia que melhor tem debatido a questão da identidade de gênero e sujeitos que não se enxergam no corpo em que residem. Nos anos 90 tivemos o francês "Minha vida em cor-de-rosa", que conta a historia de Ludovic, garoto de 7 anos que vive com a certeza de estar em um corpo errado; mais recentemente pudemos conferir o argentino "XXY", que retrata a história de Alex, que nasce intersex e é obrigada a tomar hormônios para se parecer uma "menina". Porém, não deseja ser uma garota e, sim, um garoto, contrariando a vontade maternal de seus pais.

Também não podemos esquecer do norte-americano "Transamerica", onde acompanhamos a odisséia de Bree, mulher transexual que descobre ter um filho gerado na época em que vivia sob o gênero masculino: para fazer a cirurgia de adequação genital, ela terá que cuidar desse filho, mas como dizer a ele que, agora, ela é mãe e não mais o pai?

Agora, mais recentemente, o cinema nos brinda com outra grande obra a respeito da questão tratada acima. "Tomboy", que estreou semana passada em circuito comercial. O filme,  uma produção de 2009 e que ganhou prêmios em festivais ao redor do mundo, conta a história de Laure, que acaba de se mudar com a família para um bairro suburbano na França. Ao chegar ao bairro e iniciar as novas amizades, Laure se apresenta como Mikael e passa a conviver como um garoto. Na verdade, ela se enxerga enquanto tal, a todo momento fica a se olhar nos espelhos medindo os seus músculos e desejando que os seios não cresçam. Ir além na história seria estragar todas as surpresas que o longa reserva ao telespectador.

É impressionante como a diretora e roteirista do longa, Céline Sciamma, consegue tratar de um tema tão pesado e polêmico de maneira tão poética e lúdica. Acompanhamos o cotidiano de um grupo de crianças com idade entre 11 e 13 anos, observamos as suas brincadeiras, como cada um observa o corpo do outro e as descobertas do desejo sexual. Sem esquecer, claro, da disputa masculina de quem é mais viril e, por assim dizer, o líder. No quesito virilidade Mikael é o destaque do grupo, o que lhe faz feliz. Quando vivência as ações ditas masculinas, notamos que o seu mundo se torna melhor, mais completo.

Também é evidente como o filme trata das questões de identidade de gênero, códigos culturais sociais e acima de tudo sobre o corpo que desejamos. Por mais que a construção do sujeito esteja, também, ligado ao recorte cultural e a maneira como o absorvemos, em "Tomboy" o corpo orgânico e o desejado são questões cruciais: como posso me chamar Laure se me enxergo Mikael?

Por fim, o filme "Tomboy" ganha às salas de cinema em um contexto político muito oportuno. A Argentina acaba de aprovar a lei da identidade gênero e países como o Uruguai já deliberaram favoravelmente sobre a questão trans na infância enquanto uma questão de saúde pública e social. E o mais importante: não pelo viés da doença mas, sim, pelo viés da existência de sujeitos que nascem em corpos equivocados e que tal direito deve ser respeitado e contemplado pela constituição.

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