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Folha de São Paulo dedica três páginas aos gays censurados das novelas

O caderno Ilustrada do jornal "Folha de São Paulo" publicado neste domingo (24) abordou a polêmica dos gays nas novelas da TV e a recente censura a alguns deles. Foram três páginas inteiras dedicadas ao tema.

Logo na capa do caderno, a reportagem do jornal publicou as duas cenas censuradas da novela das 21h, "Insensato Coração". Na primeira delas, exibida no dia 18 deste mês, Sueli (Louise Cardoso) encontra o filho Eduardo (Rodrigo Andrade) e o namorado dele, Hugo (Marcos Damigo), e os três travam um diálogo ousado sobre a questão da homofobia.

O roteiro foi modificado, para que a cena mostrasse apenas Sueli conversando com Eduardo. O namorado "incômodo", Hugo, foi eliminado da sequência. A Ilustrada publicou o diálogo na íntegra.

A outra cena foi inteiramente cortada. É a já famosa cena em que Sueli serve café com bolo para Eduardo e Hugo e os três conversam novamente sobre homofobia, orgulho e preconceito. O jornal publicou o diálogo.

Ainda na primeira página, a reportagem relatou os recentes episódios de censura: além das duas cenas de "Insensato…", a Globo decidiu "esfriar" a história do casal Eduardo e Hugo; e o SBT, mesmo após exibir o primeiro beijo lésbico das novelas, desistiu de exibir o primeiro beijo gay, que seria entre os atores Carlos Thiré e Lui Mendes.

Na segunda página, assinada por Mônica Bergamo, atores e novelistas da Globo e do SBT deram suas opiniões sobre a polêmica. Entre eles, Lui Mendes, Gilberto Braga, Maria Adelaide Amaral e Leonardo Miggiorin, o gay Roni de "Insensato…". "Há dez anos não se falava assim tão abertamente de homossexualidade para um público de TV aberta", diz Miggiorin. Sobre o Roni ser bem aceito pelo público, o ator disse: "É porque ele não chega querendo discutir nenhuma questão".

Maria Adelaide, que escreveu o remake de "Tititi", afirma que a questão do beijo é uma bobagem. "Muito mais importante é um homem dizer para o outro ‘Eu te Amo’. Isso é mais transgressor", diz ela, que de fato fez isso em "Tititi" com os personagens Thales (Armando Babaioff) e Julinho (André Arteche).

Por fim, na terceira página, a reportagem da "Folha" colheu depoimentos de militantes, estudiosos e psiquiatras. Uma das grandes sacadas foi o depoimento de Alexandre Saadeh, psiquiatra e coordenador do Ambulatório de Transtorno de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas de SP. Sobre a permanência de gays afetados nos programas de humor – como a Valéria de "Zorra Total" -, Alexandre disse: "É mais fácil debochar desse tipo de personagem porque ele tem a marca da diferença. Incomoda mais um homossexual que não é afetado, ou que não tem trejeitos, porque fica mais difícil excluí-lo".

O colunista do Blogay, Vitor Angelo, escreveu um box na reportagem, onde declarou: "Diminuir a presença gay na TV torna o debate da homofobia desigual, se comparado ao de questões como o racismo e a opressão à mulher, amplamente discutidas nas tramas das novelas. A conclusão é uma só: os gays ainda não conquistaram sua cidadania plena nas telenovelas".

Para encerrar, um detalhe polêmico dentro dessa polêmica. Segundo o jornal e na opinião de algumas pessoas, o beijo gay entre dois homens já aconteceu há muito tempo. Foi em 1990, há 21 anos, na minissérie "Mãe de Santo", da extinta TV Manchete. Foi entre os atores Daniel Barcelos e Raí Alves, cujas silhuetas de perfil, na penumbra contra a luz, se encostam. A cena está no YouTube. Confira se vale ou não!

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