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Fotógrafa brasileira radicada em Londres clica homens nus; confira entrevista

O The Nude Project é a mais nova empreitada de Cassia Tabatini, fotógrafa brasileira radicada em Londres. Cassia clicou uma série de homens, totalmente nus, em ambientes caseiros e domésticos. Despojadas e minimalistas, as imagens mostram os rapazes nus de forma descompromissada, sem glamourizar o erotismo, e fugindo da estética pornô atualmente tão em voga. A série foi reunida em uma espécie de livro, vendido somente on-line.

Cassia cursou artes gráficas na FAAP, em São Paulo, nos anos 90. Começou fotografando bandas e na sequência se mudou para Londres. Na capital inglesa, fez pós em fotografia na Central Saint Martins e depois trabalhou com moda. "Em Londres e na Europa existem publicações lindas, e te dão espaço e liberdade para traduzir seu trabalho autoral em editoriais", comenta ela, que também é otimista com o cenário paulistano. "Acho que São Paulo está num momento muito legal, as pessoas estão super conectadas com o que existe no resto do mundo e abertas para trabalhos mais autorais, a fase copycat está por terminar", declara.

Para conhecer mais sobre o trabalho da fotógrafa, basta acessar seu site. O site A Capa entrevistou Cassia via e-mail. O resultado da conversa vem a seguir.

Como surgiu a ideia do The Nude Project?
Tudo comecou em 2007, quando eu comecei a fotografar amigos no East London. Eu me interessava pela imagem, e o processo foi longo, porque eu sempre quis usar "modelos" que fizessem parte da minha vida, do meu universo e que de alguma forma eu apreciasse. Recentemente eu coloquei os retratos juntos, uma coleção de 24 retratos. E achei que uma boa maneira de apresentá-los, o empurrão final, seria a feira de pornografia Porno Pop. Lá, o curador e artista Amilcar Packer mostrou no seu estande de publicações ligadas a pornografia, nus etc. Outra pessoa que sempre incentivou e escreveu o release do trabalho foi o curador Pablo Leon de la Barra.

Qual seu objetivo com esse trabalho?
Pra mim a intenção é sempre documentar, acho interessante ver qualquer publicação com imagens de uma época, o mundo de alguém que eu não conheço, curiosidades de um lugar e uma determinada época.

Como foi a escolha dos modelos? Alguns são gays? Quem são eles?
Os modelos são todos amigos próximos, nem todos gays, não tinha um critério, não tinha que ser isso ou aquilo. Mas todos de alguma forma fizeram parte da minha vida por um momento ou ainda fazem…

Quais suas referências e influências ao fazer esse trabalho?
Referências eram as pessoas e o meu meio, como disse queria ver aqueles meninos que transitavam no East London. O resultado foi o que imaginei, mesmo sem o estilo das roupas, eles mantiveram a sua essência, eles eram como os new dandies para mim. Influências, eu gosto de nu, erotismo, a figura do corpo humano, desde Caravaggio até os diários íntimos publicados pelo curador e fotógrafo francês Emeric Glayse. Olhar uma foto ou uma pintura de nu dá essa ideia de avanço e retrocesso, um dos estilos mais antigos, mas que ainda parece contemporâneo… Não fica tão datado…

Em quase todas as fotos, os modelos aparecem em nu frontal. Houve quem resistisse ou mesmo se recusasse a mostrar o sexo?
Houve quem resistisse e houve muitas pessoas que desistiram depois de serem fotografadas. Teve até o caso de eu fotografar duas vezes e na hora de publicar, houve a desistência. Mas quando fui fazer cada retrato, era tudo muito livre, não tinha resistência, porque eu nunca impus nada, era como o modelo queria aparecer… O nu frontal, foi porque era pra ser um retrato super comum, só que a pessoa não estaria usando roupa.

Você acha que o nu masculino ainda é tabu?
O nu em geral ainda é tabu, no meu caso deve ter sido curioso pra muita gente, porque era uma mulher, hétero, fotografando amigos, e a maioria serem homossexuais. O mais comum seria a coisa de gay pra gay.

É mais fácil fazer um trabalho como esse fora do Brasil?
A série começou no East London e terminou em Santa Teresa, no Rio, não senti diferença nenhuma.

Como você classifica o The Nude Project? Qual tem sido a reação a ele? Existe preconceito ou gente que considera o trabalho pornográfico?
Que considerem pornográfico, existe, preconceito não senti, a reação e repercussão foram ótimas. Recebi muitos e-mails, interesses em compras, de várias regiões do Brasil e da Europa, muito press e entrevistas, a repercussão foi maior do que eu esperava e me gerou outros trabalhos.

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