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“A sociedade discrimina muito o gay, e vai discriminar mais se for negro”, diz Ministro da Igualdade Racial

Consciência Negra e gay

Edson Santos, Ministro da Igualdade Racial, responde perguntas de A Capa e de convidados, e afirma: "A sociedade ainda discrimina muito o gay, e vai discriminar mais se ele for negro"

Novembro é o mês da Consciência Negra. Durante os 30 dias haverá comemorações e manifestações de promoção da igualdade racial e também do orgulho negro pelo Brasil inteiro. Aproveitando isso, A Capa quer saber: como anda a questão LGBT dentro do movimento negro? Há orgulho racial e de orientação sexual? A vida dos negros pobres e LGBT melhorou? Ninguém melhor para responder a essas e outras perguntas se não Edson Santos, Ministro da Igualdade Racial.

Carioca, nascido no Horto, Edson Santos iniciou sua trajetória no movimento estudantil, no início dos anos 80, quando aluno do curso de Ciências Sociais da UERJ. Em 1998, foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro, cargo para o qual foi reeleito em quatro outras eleições consecutivas.

Em 2006, com 105 mil votos, foi eleito o deputado federal mais votado do PT no Rio de Janeiro e o deputado negro mais votado do país. Em fevereiro de 2008, foi convidado pelo presidente Lula para chefiar os trabalhos da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPIR).

O ministro atendeu a reportagem pelo telefone. Além das perguntas da redação, respondeu também às questões de pessoas ligadas ao movimento e à comunidade LGBT. Leia a segunda parte da entrevista clicando aqui.

A Secretaria tem algum trabalho voltado especificamente para a população negra LGBT nas regiões periféricas do Brasil?
Uma das coisas que a gente está organizando em parceria com a Secretaria das Mulheres e com o Ministério da Educação é um projeto onde a SEPIR entra com recurso junto com os demais órgãos voltados para a diversidade e gênero na escola. Ou seja, através de um projeto de educação a gente vai trabalhar a tolerância à opção (sic) sexual.
 
O senhor, enquanto ministro e enquanto pessoa, é a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo?
Sou.

E o que você pensa dos políticos que atuam contra isso?
É parte do caráter conservador da sociedade brasileira. Até no cenário institucional, no congresso nacional, nas assembléias legislativas, principalmente com o advento da eleição de segmentos religiosos no parlamento, e isso tem levado a uma resistência muito grande a temas que fazem parte da agenda do século XXI.

A CUFA (Central Única das Favelas), da Cidade de Deus, está discutindo a criação de uma vertente LGBT no movimento Hip Hop. Como o senhor vê isso?
A CUFA busca organizar e dar visibilidade a um segmento da sociedade civil que até pouco tempo era invisível – a população negra e pobre desse país – e utiliza o Hip Hop como instrumento de expressão como aglutinação da juventude desse segmento. É evidente que dentro dessas comunidades carentes tenha a presença de jovens LGBTs e ao inserir isso na sua agenda de atuação, a CUFA abre espaço para esse segmento na sua estrutura. Até por que, quando se fala de jovens LGBTs, os mais discriminados são aqueles que moram em comunidades carentes.

Hoje o movimento negro conquistou o seu estatuto. O senhor acredita que o movimento LGBT também deva criar o seu?
Caminha para isso. No Brasil vem se buscando consolidar direitos de segmentos oprimidos e discriminados através de estatutos. Temos aí estatuto da criança, do idoso, tem também, ainda como projeto, o estatuto do índio. Não vejo problema nenhum em consolidar, enquanto legislação específica, os direitos de lésbicas, gays, travestis e transexuais.

De que maneira o estatuto pode ajudar na luta pela conquista de direitos?
O estatuto condensa toda uma legislação que trata do direito de determinadas minorias. Nós acabamos de falar a respeito da união entre pessoas do mesmo sexo. Isso poderia fazer parte de uma lei única, que é o estatuto. Ele é um conjunto de leis e dispositivos voltados a um determinado segmento.
 
O senhor esteve na Parada do Rio de Janeiro. Qual a importância da presença de um ministro em um evento como esse?
É mostrar às pessoas que no governo atual não há nenhuma postura de intolerância e de rejeição ao segmento LGBT. Pelo contrário, dentro do governo há espaço para se dialogar e construir políticas que atendam as necessidades deste segmento. É uma sinalização de diálogo.

Muita gente diz que as Paradas não passam de Carnaval. O que o senhor acha disso?
O lado lúdico da história a gente não pode perder. Acho que todas as manifestações políticas atuais têm que ter um lado lúdico e cultural, pois o povo brasileiro é assim também. Ninguém sai para a rua carrancudo, né? Tudo tem um tom de festividade que, felizmente, é uma característica nossa.

O que o movimento negro pode aprender com o movimento LGBT e vice-versa?
Essa relação de tolerância, de troca. Isso é importante para que a gente possa se respeitar mais. Hoje, todos os segmentos – mulheres, negros, LGBT, indígenas – devem se relacionar no âmbito da construção de uma sociedade democrática.
 
O senhor acredita que com a aprovação do PLC 122 [que criminaliza a homofobia] o preconceito com os LGBTs irá diminuir?
Eu acho que sim, até porque conscientizará o agente público a qualificar pessoas que incidam nesse crime de agressão. Isso vai ajudar a conscientizar a sociedade e inibirá atitudes discriminatórias.

* Originalmente publicada na edição #18 da revista A Capa – novembro de 2008

Veja perguntas de militantes para o Ministro da Igualdade Racial

Leia aqui segunda parte da entrevista com o Ministro Edson Santos, da Igualdade Racial