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Franz Kafka: uma dica – nada óbvia – de leitura

Um homem acorda uma manhã e se vê transformado num imenso inseto. Quando sua família descobre o fato, primeiramente, fica horrorizada, indignada, então displicente e finalmente negligente. Agora, pense que, ao invés de um homem transformado num inseto, a história narrasse a vida de um adolescente que decidiu contar a sua família sobre sua orientação sexual. Qual seria a reação da família diante de um fato tão inusitado? Não muito diferente. Muito provavelmente, o tcheco Franz Kafka (1883-1924) não tinha a intenção de fazer uma parábola sobre a reação de familiares ao saberem a orientação sexual de seus pimpolhos. No entanto, já numa primeira lida, A Metamorfose traz aqueles sentimentos de confusão, desespero e medo que tão bem caracterizam a adolescência da maioria dos gays. Esse conto fala sobre a situação do homem e suas relações no âmbito familiar, social e profissional. O autor traz à tona a discussão do homem numa sociedade que o dilui dentro de um sistema de padrões. Os rebeldes são perseguidos, massacrados e dolorosamente negligenciados. Os gays sofremos muito mais. Inadvertidamente, Kafka registrou nossos sentimentos e sensações mais profundos, como espanto, desespero e, por que não?, resignação, diante dessa sociedade que aceita políticos corruptos, mas homossexuais jamais. O que causa espanto hoje, amanhã é negligenciado e relegado ao esquecimento e ao submundo. Leia A Metamorfose não como um livro de auto-ajuda. Kafka é muito mais que isso: ele não oferece soluções. Sugere, antes, reflexão.

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