Este fim de semana ficará marcado para o turismo gay brasileiro. Depois de inúmeras tentativas sem sucesso, o Freedom On Board, primeiro Cruzeiro GLS produzido no Brasil pela Rádio Energia 97 FM e a PromoAção, zarpou do porto de Santos rumo a Florianópolis com 1700 pessoas a bordo.
O embarque começou pontualmente ao meio-dia e os passageiros foram recepcionados pelo DJ Mauro Borges, até as 17h, hora em que as portas foram fechadas. O Island Escape zarpou às 18h, após treinamento para caso de emergência com todos os passageiros a bordo.
O grande atrativo da viagem eram as festas, mas a produção surpreendeu-se com a quantidade de mulheres, homens mais maduros e ursos, grupos não muito adeptos ao tribal e house das pistas. O cassino, o teatro, as rodas de samba e música ao vivo, além da pistinha de flashback, que ficou animada com o veteranérrimo DJ Akeen no comando, foram habitados por toda a democracia de público presente.
As barbies desceram em peso para a Praia Mole, no sábado (07/02), mas o atendimento na Barraca do Deca estava precário e desagradou bastante. Enquanto isso, o público do navio podia curtir piscina com som e, os mais consumistas, arrasaram nas compras de perfume. A procura foi tão grande que algumas marcas ficaram em falta.
Das quatro festas programadas, a White Party foi a que mais agradou. Mas a R:evolution, da Rosane Amaral, não deixou nada a desejar, com som bacana e decoração clássica. Já o after da UltraDiesel não foi muito cheio. E a Joystick cumpriu seu papel.
Averiguação
Após o embarque dos passageiros, treze pessoas foram chamadas para que suas malas fossem abertas na presença da polícia federal. Simples averiguação. Marcelo Picinne, o Mama, do clube UltraDiesel, foi um dos convocados pela receita federal. "Eles acharam estranho que tinha uns tijolos na minha bagagem, mas fui lá e expliquei que era produção dos gogos", esclarece.
A história repercutiu em terra. "Me ligaram para saber sobre o meu irmão. Na Flexx e no after [da UltraDiesel], todo mundo comentava que o Marcelo tinha sido preso, mas eu expliquei o que tinha acontecido", contou Roger Piccine, irmão do Mama, durante o trajeto entre o porto de Santos e o aeroporto de Congonhas.
Praia Mole
No sábado (07/02), o Island Escape atracou em Florianópolis. Embarcados em lanchas, os passageiros seguiam até Canasvieiras, de onde poderia utilizar-se de transfer até a Praia Mole e curtir o dia na Barraca do Deca, tradicional point GLS da ilha. Poucas lésbicas e maduros optaram pelo passeio. As barbies do navio é que reinavam. No entanto, na praia não estavam preparados para receber os passageiros do Freedom e a lentidão no atendimento causou irritação em grande parte dos presentes.
Descer do navio e chegar até a Praia Mole levava cerca de 1h30. Tempo entre atravessar o canal, esperar o ônibus e atravessar a ilha. Grande parte resolveu pegar as vans particulares que cobravam R$ 10, mas a demora do ônibus valia o valor pago.
Quem foi até Galhetas – praia de nudismo ao lado da Mole – se deu bem, já que no navio a maioria dos passageiros estavam em casais e a oferta de ‘pegação’ foi baixa.
Babados
Ao entardecer do domingo (08/02), o segundo comandante do Island subiu ao palco e dançou freneticamente, levando o público à loucura. A drag Salete Campari encarnou sua personagem, Marlyn Monroe, completando o agito. O fervo ficou mais picante ainda quando belos gogo boys dançavam nos queijos, completando o bafo. Uma passageira, fervidíssima, fez topless e foi ovacionada, ai que loucura!
Pegação
Grande parte dos passageiros estavam em casais, por isso a ‘pegação’ não foi tão grande como alguns esperavam. Quem estava atrás de alguma coisa circulava pelos corredores durante a noite, mas ainda assim eram pouquíssimos os que faziam isso. "Vim com 20 camisinhas e estou voltando com 12, achei que ia voltar sem nenhuma. O povo fala que gay é promiscuo, aqui não vi nada disso", elucidou o passageiro Gilberto, de São Paulo.
Atendimento Médico
Situações que necessitam de socorro médico virou assunto constante da imprensa depois da morte da universitária Isabelle, a bordo do Island Escape, em dezembro passado. No Freedom, apenas dois atendimentos foram registrados, sem qualquer gravidade. Duas pessoas se excederam um pouco, mas foram liberadas rapidamente.
Lésbicas
A quantidade de mulheres no navio surpreendeu o público e a organização. Elas tomaram conta das rodas de pagode e samba do bar onde rolou música ao vivo, e no Beachcomber, no qual teve voz e violão.
"Elas lotaram o cassino, a mesa de pagode e a roda de voz e violão. Por isso, já estamos pensando em uma divulgação especial para elas em 2010", ressalta Valtinho Fragoso, produtor da viagem, sobre a falta de programação focada ao público que não busca apenas festa – reclamação das garotas.
A maioria das lésbicas presentes no navio eram casais, mulheres com mais de 30 anos, algumas com mais de 50. Público estabilizado financeiramente e com dinheiro para gastar com produtos que agradem seus gostos.
Consumo
Um fato chamou bastante atenção da tripulação do navio, acostumada a lidar com famílias. Notaram que o público do Freedom tem alto poder de consumo. "Nunca vi em nenhum Cruzeiro tanto pedido de bebidas nas cabines como neste", disse a chefe de recepção Sal à reportagem do A Capa.
Nas lojas de perfumes e bebidas, a mesma observação. Alguns perfumes esgotaram nas prateleiras e, diferente de outros grupos, os gays já chegavam informados sobre a marca do produto e o preço. Conheciam as marcas internacionais e não reclamaram do preço, já que famílias buscam produtos da Natura e Avon, mais populares.
Nas festas durante o dia, o consumo de champanhe, vodka e whisk podia ser visto em abundância na borda da piscina e nas mesas. O rótulo mais barato de champagnhe custava US$ 125 e o mais caro US$ 179. Já uma garrafa de Red Label, para consumo imediato, custava US$ 99.
Mr Gay
O publicitário Luciano Lupo, o Mr Gay Brasil 2007, foi ao cruzeiro com seu novo namorado. Advogado potiguar, o rapaz esbanja simpatia e dinheiro. Só em sua rápida estada em Florianópolis gastou R$ 6 mil com champagnhe na Taiko, em Jurerê Internacional, reduto de mauricinhos da ilha.
Regiões
O Cruzeiro não ficou restrito apenas aos paulistas, catarinenses e cariocas – ainda que estivessem em maioria. Muita gente de Minas, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão, Recife e Bahia marcaram presença.
Tripulação
Em geral, a tripulação recebeu bem o público gay. Entre as camareiras, a observação é que as cabines não ficavam tão bagunçadas como de costume, e que os homossexuais são educados têm bom nível. Já as cabines das garotas eram menos organizadas que a dos meninos. Durante o check-out alguns recepcionistas atenderam aos passageiros com uma certa grosseria e deixaram as centenas de pessoas que se acumulavam no saguão do deck cinco ainda mais irritadas.
Freedom 2010
Devido ao sucesso de vendas, a produção do evento já confirmou a edição de 2010 do Cruzeiro, que começa a pré-venda em março. Como esta é a última temporada do Island Espace – que será aposentado – e existe perspectiva de mais público, a operadora cotada para o próximo ano é a Royal Carib