Em sua coluna no jornal O Globo desta quinta-feira (23), Frei Betto discursou sobre o debate sobre a "homossexualidade", que ocorreu no Sínodo da Família, realizado pela Igreja Católica no Vaticano nas últimas semanas.
De acordo com o frei, Jesus conviveu sem discriminação e que, agora, papa Francisco "ousa em se erguer contra o cinismo", já que finalmente adotou tom mais acolhedor à comunidade LGBT.
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Ele defende que a Igreja não pode discriminar ninguém em razão da orientação sexual e que deve desistir da postura de considerar a homossexualidade um desvio. "O que está em jogo é a dignidade da pessoa humana, o direito de casais gays serem protegidos pela lei civil e educarem seus filhos na fé cristã, o combate e a criminalização da homofobia, um grave pecado".
O frei escreve que é preciso reler o Evangelho pela ótica gay e feminista, uma vez que já foi lido pelas visões aramaica (Marcos), judaica (Mateus), pagã (Lucas), gnóstica (João), platônica (Agostinho) e aristotélica (Tomás de Aquino). "O surgimento da Teologia da Libertação, com a leitura da Palavra de Deus pela ótica dos pobres, causa ainda incômodo aos que consideravam a ótica eurocentrada como universalmente ortodoxa".
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Ele explica que a dificuldade de a Igreja católica aceitar a cidadania LGBT deve-se à tradição bimilenar judaico-cristã, que é heteronormativa. E que todo conservadorismo vem da não aceitção de separar a Igreja do Estado.
"Deus é gay? 'Deus é amor', diz a primeira carta do apóstolo João, e acrescenta 'o amor é de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus'. E, se somos capazes de nos amar uns aos outros, 'Deus permanece em nós'", defende.
O frei diz ainda que Jesus ensinou que "não é escalando a montanha das virtudes morais que alcançamos o amor de Deus. É nos entregando a esse amor, gratuito e misericordioso, que logramos fidelidade à palavra".