Além de várias atrações musicais, a Caminhada deste ano conta com a participação especial do grupo Fuzarca Feminista, que pretende aliar música e militância utilizando instrumentos de percussão de materiais recicláveis. Quer saber mais? Leia entrevista com Camila, uma das idealizadoras do movimento.
Dykerama.com – O que é a Fuzarca Feminista? Quando e como surgiu? Por que este nome?
Camila: Somos um grupo de mulheres militantes, feministas, anti-capitalistas, anti-lesbóficas e anti-racistas, que surgiu em 2003 como mais um instrumento de luta da Marcha Mundial das Mulheres, e faz parte das ações contra a mercantilização do corpo e da vida das mulheres. Além de um instrumento utilizado para a discussão política é um instrumento de visibilidade das ações da Marcha, seja no espaço de auto-organização das mulheres ou nos espaços de militância mista.
Tem esse nome porque é um espaço irreverente em que usamos toda nossa ousadia na construção de novos ritmos e de palavras de ordem a partir do nosso cotidiano. Utilizamos materiais recicláveis como latas de óleo comestível, de cerveja, garrafas pet e também tampinhas, além dos tambores de plástico. Quando tocamos na batucada estamos dizendo que queremos outras práticas e que não aceitamos a cultura musical machista e preconceituosa que ouvimos todos os dias, seja no rádio, nos shows ou nos programas de TV, que utiliza as mulheres como iscas de mercado. Somos fuzarqueiras desobedientes do ritmo, porque desacatamos as leis de mercado, a moral machista e todas as formas de preconceito e discriminação. Batucamos por um outro mundo!
A Batucada é um espaço onde as mulheres podem criar e recriar. Não é preciso ter experiência musical pra sair batucando. A gente inventa ritmos, adapta letras, inventa palavras de ordem e trocamos experiência. Além disso, organizamos espaços de debate. Porque acreditamos que discutir os temas globais da sociedade é instrumento de reconstrução do nosso cotidiano.
Além do debate e alegria que a batucada proporciona, o ritmo ajuda a gerar concentração, unidade e força nos momentos de ação coletiva. Tocar é uma forma direta de ação política, de levar o feminismo para os olhares e ouvidos da rua, expressando nossas lutas e ocupando o espaço público. Aprendemos a nos organizar e coordenar nossos próprios ritmos de forma criativa e inclusiva. Batucar é divertido, nos faz sentir bem e eleva os espíritos frente à adversidade.
Dykerama.com – Qual a relevância da Caminhada? Qual a diferença dela pra Parada, por que fazer uma Caminhada separada? Por que é importante a participação das mulheres?
Camila: A Caminhada marca a visibilidade das mulheres lésbicas e bissexuais no movimento GLBTT. Coloca o foco no protagonismo das mulheres na luta por um outro mundo possível. É muito importante não desvincular o sentido político de manifestações de rua e trazer pro debate o questionamento da mercantilização da vida e do corpo das mulheres, a reivindicação pela legalização do aborto, lembrando que nossa Constituição celebra a laicidade do Estado. Pautas de luta e reivindicação da VI Caminhada que são de todas as mulheres: negras, brancas, heterossexuais, lésbicas e bissexuais. A luta de todas as mulheres é a luta pela autonomia, pelo direito de decidir sobre seu corpo e sua vida.
Dykerama.com – E o movimento feminista? Muitas mulheres não entendem direito o que é…
Camila: É preciso reconhecer que quando falamos de feminismo temos que desfazer confusões acerca do que ele é de fato e das representações que dele são feitas. O movimento feminista é composto de várias tendências políticas que têm pautas e estratégias de luta diferenciadas. A Marcha Mundial das Mulheres, desde seu surgimento, tem se firmado como um movimento que articula ações locais, nacionais e internacionais. Nos organizamos em torno de uma agenda radical anti-capitalista e anti-patriarcal.
Primamos pela auto-organização das mulheres, ao mesmo tempo em que atuamos nos movimentos sociais, sempre na perspectiva da construção de um projeto que incorpore o feminismo e as mulheres como sujeitos políticos. Nossa marca são as ações políticas em espaço público, em que se criam formas irreverentes e alegres de crítica à sociedade capitalista, machista e patriarcal. Estivemos envolvidas em atividades de rua, debates e mobilizações diversas: contra a pobreza e a violência, pela valorização do salário mínimo, pelo direito a terra, pela legalização do aborto, contra a área de Livre Comércio das Américas (Alca) e Organização Mundial do Comércio (OMC), contra o deserto verde e violência sexista, contra a mercantilização da vida e do corpo das mulheres, por mudanças na política econômica e reforma urbana.
Dykerama.com – Como será a participação de vocês na VI Caminhada de Lésbicas e Bissexuais?
Camila: Nossa idéia a batucarmos do início ao fim da Caminhada, estaremos presentes já na concentração, levando nossos ritmos, palavras de ordem e engrossando o sentido político desta VI Caminhada. Convidamos todas as mulheres a deixarem a timidez de lado para fazermos ecoar pela cidade nossa alegria e nossa vontade de lutar por um mundo sem lesbofobia!