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Gabriela Leite defende união civil gay

Ao falar de sua candidatura, a ativista e prostituta aposentada Gabriela Leite mostra que conhece o terreno onde está pisando. Candidata a deputada federal pelo PV do Rio de Janeiro, dispara: “Sei que não sou um voto de multidões. O voto em mim é o voto de opinião”.

Com 30 anos de luta no movimento social, Gabriela tem boa parte de sua história contada em sua autobriografia “Filha, Mãe, Avó e Puta”, lançada em 2009. Em entrevista ao site Dykerama, ela conta os detalhes de sua saída do PT nos anos 80. “Diziam que o partido estava virando uma zona por ter uma prostituta militante”.

Aos 59 anos, revela que foi convidada a se candidatar pelo parlamentar e candidato a governo do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, de quem herdará projetos como o da descriminalização da profissão de prostituta.

Durante a conversa, fala sobre seus projetos e pontos de vistas em relação a legalização da união civil homossexual, nome social de travestis e transexuais, aborto e legalização das drogas.
Leia entrevista.

Por que você saiu do PT?
Há muito tempo fui do PT, mas me desfiliei ainda na década de 80, quando Gabeira foi candidato a governador. Fomos mal tratados como militante, por conta do preconceito das pessoas que diziam que o PT estava virando uma zona por ter um candidato gay e uma militante prostituta. Logo depois das eleições comecei a perceber a dificuldade do PT pra essas questões, que trabalho desde aquela época e resolvi sair. Desde então nunca mais me filiei a partido nenhum.

Tenho 30 anos de militância e fiz política dentro do movimento social. E agora, coisa de um ano e meio atrás, fui convidada pelo Fernando pra ser candidata, assumir alguma coisa, enfim. Pensou-se em deputada federal pra herdar alguns projetos, caso eleita, que o Gabeira vem trabalhando, e nessa eleição ele não é candidato ao parlamento.

E aí, depois de tantos anos sem ter uma filiação partidária, me filiei ao PV e resolvi levar essa campanha avante.

Como você lida com o fato de a Marina Silva ser evangélica?
A Marina é evangélica e os outros candidatos também têm uma religião. São eminentemente católicos. Essa é uma questão da sociedade brasileira. Estão encarnando muito na história da Marina, mas essa é uma questão de todos os candidatos, sempre. Não sei se você se lembra quando o Fernando Henrique foi candidato, ele disse que era ateu e teve que imediatamente voltar atrás porque estava perdendo voto.

É claro que essa questão da sociedade brasileira é ruim, porque o Estado é laico e essa é uma das questões que teremos que vencer: separar política de religião. Não pensar as questões políticas a partir de verdades religiosas. Acho que em algumas questões a Marina foi honesta e disse o que pensa, como aliás os outros candidatos também são contra o aborto. Todos eles tem a mesma posição.

Gosto muito dela. Acho ela uma mulher com uma trajetória incrível, que já mostrou pra esse país o que ela é capaz de fazer e não se vender, como fez quando era do Ministério do Meio Ambiente. Votarei nela com muita honra.

Como você fez a sua campanha?
Minha campanha não tem dinheiro. Começa por aí. Então, a gente vem trabalhando junto a voluntários , amigos e essa coisa toda e minhas amigas prostitutas. Neste momento que estou falando com você tem uma amiga americana, a Laura, que está fazendo um documentário sobre a minha campanha. E ela está me acompanhando, gravando enquanto falo com você ao telefone.

Quais são seus projetos?
Venho trabalhando essas questões bastante radicais, como legalização do aborto, a descriminalização da profissão de prostituta e a posterior regulamentação, a questão da união civil homossexual e o nome social das trans. Eu assinei o termo de compromisso da ABGLT.
Começar junto a outras pessoas a discussão sobre a legalização das drogas, que está atrasada neste país. E as questões das mulheres em geral.

São questões radicais, portanto sei que meu voto não é um voto de multidão. É um voto de opinião e estou trabalhando esta campanha. É bastante difícil, sem dinheiro, mas ao mesmo tempo é muito prazerosa.

De onde saiu o slogan “uma puta deputada”?
Gosto muito da palavra puta. Tanto que você pode ver, o título do meu livro tem a palavra puta. Venho trabalhando essa história do nome puta há muito tempo e sou uma fã incondicional do filósofo [Pierre-Félix] Guattari. Ele diz que as pessoas só assumem preconceitos e estigmas se usarem os nomes bons ou maus pelo que são conhecidos. Então, resolvi começar a usar essa palavra.

Um dia, bem no comecinho da campanha, quando fizemos um planejamento, começamos a discutir essa questão e aí um amigo disse: “por que não puta deputada”? E aí começamos com o “puta deputada” que está fazendo um auê aqui na sociedade carioca.

Ter uma biografia conhecida ajuda na campanha?
Olha, imagino que sim. O livro tem vendido e parece que agora, neste momento de campanha, está vendendo mais. Mas tive um desafio muito grande. Sou uma pessoa conhecida e isso é fato. Mas isso não quer dizer que as pessoas sabiam que eu era candidata. Foi um desafio que tivemos que enfrentar na campanha. As pessoas me conhecem na rua, mas quando eu digo que sou candidata falam “ai, eu não sabia”.

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