Tempos atrás, estava com meu querido amigo João Silvério Trevisan, num café ali na rua Vieira de Carvalho. Para quem não conhece (o que acho difícil), trata-se de uma rua ao lado da praça da República, onde a concentração de homossexais – tanto a noite, quanto de dia – é bastante grande. Um lugar que tem se transformado bastante com o passar dos anos e que, até bem pouco tempo atrás, era visto com maus olhos pelas "bichas phynnas" que alegavam que a região era frequentada apenas pelas "penosas"… Hoje, esta visão está um pouco diferente e o espaço tem sido frequentado por diversos tipos de gays…
Enfim, estávamos conversando e João comentou o fato de como, no Brasil, o apelido e, principalmente, os adjetivos têm um papel importante na comunicação. Por exemplo, sempre ouvimos as pessoas dizendo "ah, tá vendo aquele negão?", ou então, "ali, perto daquela loirinha", ou ainda "aquele cara ali, o careca…". Minha mãe mesmo tem uma amiga que, sempre que se refere a alguém, usa um apelido, geralmente um adjetivo que dê destaque à alguma característica da pessoa.
E claro que nós, homossexuais, não escapamos destas nomenclaturas. Algumas vezes engraçadas, outras carinhosas, mas, em sua maioria, agressivas e ditas com a intenção pura de ofender e humilhar.
Ontem, um querido amigo do Facebook, o Tainã – mona, eu fico passada no dendê com o poder da internet e como ela pode ser bem utilizada quando queremos, sobretudo, conhecer pessoas maravilhosas que por conta da distância física provavelmente nunca conheceríamos – e meu amigo Tainã é um desses casos, pois ele é de Pelotas (hummmmm), que assim como Campinas é tida como a cidade dos gays. Até hoje não entendo o porquê. Se alguém puder me explicar, eu agradeço…
O fato é que ele me sugeriu (o que eu adoro, pois acho o máximo quando vocês me ajudam a escrever o blog) que eu abordasse sobre esses adjetivos que normalmente são utilizados para se referir a nós, homossexuais. Daí, coloquei um tópico em minha página do Face e pedi que as pessoas me lembrassem os adjetivos que são comuns em suas cidades, uma vez que a diversidade cultural do Brasil é vasta. Fiquei feliz, pois muitos adjetivos me chegaram dos quatro cantos do país, alguns repetidos, outros bem curiosos e alguns bem, digamos, explícitos. A princípio, até fiquei meio tensa de colocá-los no post ou não, mas uma vez que se trata de um debate aberto e como constam até em livros acadêmicos, então, por que ficar com este falso puritanismo, não é mesmo?
Eis, então, alguns sinônimos para homossexual: gay, bicha, bichinha, veado, viadinho, viadão, bambi, fresco, puto, putão, maricas, mariquinha, maricona, biba, bee, besha, traveco, trava, travesti, travecão, quebra-mão, delicada, mocinha, mulherzinha, cu de cadela, margarida, florzinha, princesa, cu largo, queima rosca, pau no cu, ré no kibe, cu sem dono, mamador, chupador, leiterinha, depósito de porra, Barbie, domador de jiboia, Vera Verão, Rogéria, engolidor de espada, essa Coca é Fanta, passiva, passivona, Ivone, gaúcho, pelotense, campineiro…
O curioso é que esses adjetivos, principalmente quando estão associados com a intenção de ofender, têm uma ligação muito forte com o que é típico da mulher. Ou seja, além da homofobia em si, existe um traço de machismo muito grande também, afinal, ninguém que quer ofender um homossexual o chama de "ativão", por exemplo, mas sim de "passinova".
O que acho igualmente curioso é que alguns termos eram considerados tão ofensivos em outras épocas e, hoje, são esvaziados deste sentido, como bicha, por exemplo, que virou o tão corriqueiro "besha" ou "bee", utilizado por nós mesmos… Mas como me disse Tainã e tantos outros amigos que escreveram, e como disse a minha querida Léo Áquilla outro dia: "você se arruma tanto, se produz, dá o melhor de si para poder alegrar um pouco mais o mundo e vem alguém e simplesmente te chama de traveco". Ou mesmo como disse Trevisan em uma entrevista, até o mendigo – que é considerado um pária da sociedade – se sente superior a um homossexual e acha que pode ofendê-lo com esses termos.
Enfim, meu amor, isso é Brasil e enquanto não tivermos uma política verdadeiramente preocupada com as minorias e um plano educacional que leve em consideração a questão da diversidade e da pluralidade cultural, vamos enfrentar esses tipos de coisa. Enquanto nossos governantes acharem que homossexualidade é "opção" e argumentarem que são contra qualquer tipo de propaganda de "opção sexual", ainda vamos ter que enfrentar, e muito, esse tipo de situação…
Besha, gayzinho ou viadinho… Não me importa… O que quero é ser feliz, como qualquer pessoa.
Tá dado o recado…
Beijo, beijo, beijo… Fui…