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“Gay sempre levanta o ibope”, diz Sergio Ripardo, novo colunista do A Capa

Há quase dois anos, o jornalista Sergio Ripardo levou diversidade ao portal de jornalismo Folha Online. Com a criação da coluna "Destaques GLS", Sergio, que também era editor de Ilustrada, deu espaço para a comunidade gay, pautando assuntos até então pouco abordados em um grande veículo, como o cotidiano da vida gay, neuras, relacionamentos entre pais, namorados e até sobre ‘pegação’.

Não seria exagero dizer que ‘Destaques GLS’, publicada toda quarta-feira, se tornou referência para o jovem que estava saindo do armário e que não sabia como lidar com isso, ou então para aquele mais fervido, interessadíssimo em saber qual seria a mais nova boate que abriria (e fecharia depois de uma semana) no mês.

Mas, em agosto do ano passado, por divergências internas e a descoberta de uma doença cardíaca, Sergio resolveu deixar o cargo de editor de Ilustrada e também sua coluna ‘Destaque Gls’ para tratar de sua saúde.

Agora, que já estamos em 2009, Sergio tem novos projetos e, um deles, é a volta de sua coluna. Mas, com uma novidade. Além de conferir a "Destaque GLS" toda quarta-feira aqui no site A Capa, a coluna também terá uma versão impressa.

Em uma rápida entrevista, Ripardo conta mais detalhes sobre esse novo retorno, expõe sua opinião sobre a noite gay e afirma: "Gay sempre levanta o ibope, desperta curiosidade. Pena que, na maioria das vezes, pelos aspectos mais pitorescos, folclóricos ou trágicos."

Confira abaixo a entrevista na íntegra.

A "Destaque GLS" durou quanto tempo na Folha Online?
Quase dois anos

Foi difícil inserir uma coluna gay em um grande portal?
Não.  A ideia foi bem recebida pela direção e pelos leitores. A Revista da Folha tinha uma experiência parecida nesse segmento.

A nova coluna, em A Capa, será como a antiga?
O formato será diferente. Não haverá pôster dos bonitões, por exemplo. Também terá uma versão impressa na revista. Na Folha, era só no site.

No site e revista A Capa, por ser um veículo de mídia segmentada, você acredita que terá mais liberdade para abordar diversos assuntos?
Na Folha, nunca censuraram nem interferiram na coluna. Mas eu sabia que o perfil do leitor era mais diversificado. Héteros também se manifestavam.

Qual era a receptividade do público, referente à coluna. Você recebia muitos emails, comentários, pedidos de temas para serem abordados?
Não passava uma semana sem receber e-mail. Alguns relatavam dramas pessoais, pediam ajuda, davam sugestões. Havia também as cartas homofóbicas, ataques pessoais –no início, eu ficava meio abalado, assustado, mas depois percebi que sempre vamos nos deparar com o preconceito.

Até que ponto seu blog contribuiu para o seu trabalho? E, por expor às vezes sua vida pessoal, isso já chegou a atrapalhar profissionalmente?
O blog ajudou a divulgar a coluna, o guia, a interagir com o leitor, a brincar com a linguagem, com fotos. Havia exageros, o que é natural quando você escreve sem compromisso de publicar ou quando você se esquece por um momento que aquilo é lido por muita gente. Mas dava para contornar, sem prejuízo.

Que blogs você anda lendo?
Leio ainda os blogs que a coluna divulgou –pelo menos aqueles que sobreviveram. Mas hoje leio menos do que antes. Passou a febre, a compulsão. Há cinco meses, desde que deixei de trabalhar, passei a ler mais livros, aqueles que as editoras me mandavam e eu nunca tinha tempo de folhear.

Você frequenta a noite gay, costuma ir a quais lugares?
Sim, mas discretamente. Não fico ligando pra assessor ou dono de boate. Não gosto de confundir as coisas, de me sentir com rabo preso ou mãos atadas. Lazer é lazer. Trabalho é trabalho. Se você puxa saco ou lambe botas, fica impedido de noticiar algo negativo, aí todo mundo fica endeusando as mesmas coisas, as mesmas pessoas. Quando estou solteiro, me jogo mais na noite, gosto de ver gente diferente, desde boates como A Lôca, The Week, Bubu, Blue Space e também em lugares do centrão como Cantho, Danger, ABC Bailão, clubes que o povo metido da cidade esnoba por preconceito social ou tem vergonha de falar que foi.

Falta lugares mais tranquilos em São Paulo para gays sem serem as boates? Ou acha que isso só aumenta a sensação de gueto?
Sim. Ainda somos carentes de espaços de convivência. Mas é um problema geral da cidade. Faltam praças, parques, calçadões, bulevares, enfim, aqui tudo é pago ou é reservado para os carros. A violência agrava ainda mais, pois há o medo de caminhar nas ruas. Todo mundo foge para shopping. Em bares e restaurantes simpatizantes, sinto falta de um bom atendimento, preço justo. Sempre querem meter a faca nos gays. Mesmo em bairros mais moderninhos, há ainda muita homofobia. Um repórter da Folha estava com o namorado em uma lanchonete nos Jardins, os dois começaram a se beijar, veio o garçom e, sem falar nada, jogou a conta em cima da mesa. Isso na alameda Tietê, no meio do
burburinho fashionista.

A mídia gay vem contribuindo para a inclusão de pautas gays em grandes veículos?
Gay sempre levanta o ibope, desperta curiosidade. Pena que, na maioria das vezes, pelos aspectos mais pitorescos, folclóricos ou trágicos. Em 2008, tivemos a perseguição aos sargentos gays, o "maníaco do arco íris", tivemos o Lula refazendo sua imagem e promovendo um discurso simpatizante na Conferência em Brasília. A turminha da música também saiu mais do armário, com dinossauros da MPB falando abertamente sobre orientação sexual. A mídia tradicional toma, muitas vezes, conhecimento desses babados e da sua repercussão pelas publicações especializadas.

Você teve uma publicação em 2007, o Guia GLS. Pretende lançar algo novo este ano?
Devo fazer uma revisão do guia neste ano, revisitando os lugares, incluindo novos points, tirando outros. No Brasil, todo mundo fala que tem "projetos", mas ninguém lembra de checar se eles saíram do papel, se foram bem ou descobrir por que atrasaram. Na Ilustrada, eu via que muitas celebridades só conseguem espaço na mídia anunciando "projetos" — na verdade, ideias vagas, muitas vezes pretensiosas, mirabolantes, sem verba garantida nem cronograma confiável. Tenho várias ideias, como montar uma agência de produção de
conteúdo para este segmento ou um portal. Mas tenho preguiça de lidar com a burocracia e não queria me meter numa coisa complexa para desistir no verão seguinte.

Você acredita que o setor de turismo é o nicho que mais atrai o público gay?
O problema do nosso mercado é a falta de dados seguros, de estatística confiável. Ninguém faz pesquisa séria. Todo mundo inventa números, faz um oba-oba, promove o otimismo, atrai anunciantes, parceiros, aí depois desaba. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a revista "Dom", que apostou no perfil do gay americano e europeu dentro de uma realidade brasileira, onde todo mundo come sardinha e arrota caviar. Veio a crise financeira, pegou todo mundo de calça skinny curta e morreu. Só na reta final decidiu pesquisar quem era seu público.Tenho medo que o setor de turismo se enrole nesse tipo de armadilha, de que os gays são o melhor caminho para o lucro rápido, pois têm fama de gastadores e vítimas de modismos e busca desesperada por glamour e status.

Este ano, você vai a Parada Gay?
Sim. Depois que sofri um seqüestro-relâmpago na saída do prédio da Folha, fiquei meio em pânico em multidões. Mas já estou bem melhor –embora no show da Madonna fiquei na pista ao lado da área dos deficientes físicos e do posto médico. Na Parada, costumo ir mais no final da tarde, quando já está mais esvaziada, pois quero sentir o clima, encontrar

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