Lembro-me que, na época em que concorria a uma vaga na Câmara Federal, o ativista Beto de Jesus fez o seguinte questionamento: “Gay vota em gay”? Relevante e louvável, a pergunta do ativista tentava cavar um buraco bem mais profundo: O que faz um homossexual votar em um candidato assumido?
Acredito que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros não votam num candidato simplesmente porque ele é homossexual. O que faz um homossexual votar em um candidato assumido é seu compromisso com plataformas inclusivas, que estabeleçam políticas claras e precisas em favor da comunidade GLBT. É aquela velha história: não basta um candidato gay bradar aos quatro cantos do mundo que é assumido e que isso vai ajudá-lo a conquistar espaço. Não é à toa que a maioria dos deputados e senadores que compõem a Frente pela Cidadania GLBT no Congresso não são homossexuais, mas todos eles, de alguma maneira, assumem seu compromisso com a causa.
Nas eleições de 2006, uma das candidatas a deputada foi a drag Salete Campari. Ao contrário de Léo Áquila, que nas mesmas eleições tentou vender uma outra imagem, não necessariamente ligada ao seu trabalho como performer, Salete pretendia sair completamente montada, assumindo suas roupas extravagantes e a maquiagem, o que faria dela a primeira drag a conquistar um cargo político no Brasil. No entanto, apesar de terem recebido um número significativo de votos, nem Léo nem Salete chegaram ao seu grande objetivo. Por quê? Não me venham explicar o fato utilizando a frase simplista que “gay não vota em gay”…
Outro exemplo, desta vez inverso, foi a eleição de Clodovil, que num acinte recalcado tentou negar qualquer compromisso com os homossexuais. Se ele chegou ao Congresso não foi por causa dos homossexuais – até porque ele não tinha nenhuma proposta clara que favorecesse a comunidade – mas sim por causa de sua imagem junto às donas de casa de classe média. Uma vitória, digamos, da “maioria”.
É por tudo isso que temos uma grande missão na eleições de outubro: votar em que merece ser votado, sejam os candidatos gays ou não.