Jean Wyllys ficou conhecido nacionalmente após ter participado do Big Brother Brasil. A visibilidade conquistada através do reality show talvez seja uns dos pontos fortes de sua campanha a deputado federal pelo PSOL.
Com propostas claras para as minorias – entre elas, lutar contra a aprovação do projeto de lei que proíbe casais homossexuais de adotar crianças, de autoria do deputado federal Zequinha Marinho (PSC-PA) -, Jean Wyllys acredita que a comunidade LGBT precisa se organizar melhor politicamente para fazer frente à bancada evangélica no Congresso.
Nesta entrevista, Wyllys explica por que decidiu se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados, esclarece suas motivações políticas e revela seu voto para presidente. Confira a seguir:
Por que você decidiu ser candidato a deputado federal?
A ideia de me candidatar partiu da Heloísa Helena. Ela me fez o convite. Eu já era filiado ao PSOL, mas não pensava em me candidatar. Aí, um dia, a gente se encontrou em Salvador e, nesta ocasião, durante uma conversa, a Heloísa me fez a proposta, argumentando que a política – e, aqui, eu me refiro à política no sentido do senso comum – precisa de novas caras e de candidatos que sejam cidadãos honestos e comprometidos com trabalhos em favor da justiça social e das liberdades. A princípio, eu disse não. Mas, depois, pensando melhor nos argumentos dela, eu reconheci que ela tem razão: se os políticos que estão aí não nos representam nem às nossas causas, então, que sejamos nós os políticos! Se eu posso estender os resultados de meu trabalho em prol dos Direitos Humanos a mais pessoas; se a vida me deu o potencial e a chance de fazer isto; se a vida me trouxe a esta posição; então, que eu o faça! Pensando assim, aceitei o convite e agora sou candidato a deputado federal pelo PSOL e pelo Rio de Janeiro. Meu slogan é "Um novo candidato para uma nova política". Precisamos mesmo de uma nova política, voltada verdadeiramente para o bem-estar coletivo, sem excluir, deste, as minorias.
Quais são suas propostas para a comunidade LGBT?
Primeiro eu quero esclarecer que as minhas propostas para os LGBT fazem parte de um conjunto maior de propostas em favor dos Direitos Humanos e das liberdades civis. Bom, além de me engajar na defesa de projetos de lei que já tramitam no Congresso Nacional, como o que criminaliza a homofobia e o que institui a união estável ou a parceria civil ou, ainda, como alguns preferem, o "casamento" entre homossexuais, além disso, vou lutar contra a aprovação do projeto de lei que proíbe casais homossexuais de adotar crianças. É inadmissível que parlamentares fundamentalistas religiosos preferiam ver crianças apodrecendo de solidão e desafeto – e, em alguns casos, sofrendo maus tratos – em orfanatos do que as ver em lares constituídos por casais homossexuais, recebendo afeto, proteção e conforto material! Isto é inadmissível! Além disso, se eleito, vou cumprir meu papel legislativo de fiscalizar a implantação do Plano Nacional de Direitos Humanos e do Plano Nacional LGBT por parte do Poder Executivo e de acompanhar processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal e que são do interesse dos LGBT, como os relacionados à união estável entre homossexuais e ao reconhecimento e adoção do nome social de travestis e transexuais. Outros projetos específicos para os LGBT surgirão ao longo do mandato, dependendo das necessidades desta comunidade à qual pertenço, e serão construídos em parceria com o movimento social.
Como pretende atuar pela aprovação do PLC 122?
É atribuição de um parlamentar legislar, ou seja, fazer leis e negociar (no melhor sentido desta palavra!) com os demais a aprovação das mesmas; é também atribuição de um parlamentar lutar e negociar (mais uma vez, no melhor sentido desta palavra) para que leis injustas não sejam aprovadas. A maneira como pretendo colocar as propostas em prática é parte do trabalho de um deputado federal.
Você já mencionou que votaria em Dilma Roussef num eventual 2º turno. Continua com essa ideia?
Primeiro quero deixar claro que meu voto para presidente vai para Plínio de Arruda Sampaio, que é o candidato de meu partido e que tem uma biografia política admirável e um histórico de luta em favor dos fracos e oprimidos. Dos candidatos à presidência, Plínio foi o único que se colocou a favor do casamento gay e até escreveu artigo sobre o tema na Carta Capital. Os demais, tentam fazer media com os LGBT, proferindo frases genéricas em favor da liberdade, mas rezem pela cartilha dos cristão fundamentalistas – e que fique claro que eu não me refiro a todos os cristãos, mas apenas aos fundamentalistas – que são contrários à extensão da cidadania plena a homossexuais. Aliás, não é nada salutar para a democracia que a mídia tente transformar a eleição para presidência numa disputa em triângulo: Dilma, Serra e Marina. Há o Plínio também, e o meu voto é dele. Agora, se houver um segundo turno entre Dilma e Serra, é óbvio que eu voto em Dilma.
A presidente do seu partido, Heloisa Helena, defendeu a candidata Marina Silva. Você acredita que essa postura possa prejudicar seu partido de alguma forma?
A Heloísa Helena é amiga da Marina Silva. Quando ela se manifestou a respeito da candidatura da Marina, quem estava falando, naquele momento, era a Heloísa amiga e não a Heloísa presidente do PSOL. Claro que não é fácil separar uma coisa da outra. E ainda tem o fato de que a grande mídia deu relevância à declaração porque queria fortalecer a candidatura de Marina para beneficiar o Serra. Bom, qualquer pessoa inteligente e de bom senso sabe que a grande mídia está em campanha para o Serra.
Como acredita que sua influência pública – conquistada pela visibilidade que o BBB te deu – vai ajudá-lo em sua campanha?
A minha "influência pública", para usar sua própria expressão, deve-se ao fato de eu ser um homem de opinião e com formação intelectual sólida e incontestável; deve-se ao fato de eu ser um "intelectual orgânico", para usar a expressão de Gramsci, um intelectual que se envolve com os movimentos sociais e com lutas concretas; alguém que não se limita à academia nem à sala de aula; um estudioso da comunicação de massa que não teve medo de se misturar a ela para transformá-la. Tenho orgulho de ter feito o BBB, mas o BBB não me deu prestígio. O BBB me deu visibilidade e esta visibilidade vai me ajudar na campanha, é óbvio, mas se eu não fosse quem eu sou; se eu não tivesse prestígio adquirido de uma história de vida que é maior – muito maior – do que apareceu no BBB, esta visibilidade de nada valeria.
De que forma a comunidade LGBT pode cobrar por uma maior representação no Congresso?
Os LGBT não têm que cobrar por representação, têm que construir a representação, ou melhor, eleger seus representantes. A história nos ensina que é assim: minorias só tiveram acesso a certos direitos, ou seja, à cidadania, quando se organizaram politicamente e elegeram representantes legítimos. Os LGBT precisam passar da existência como coletivo disperso para a existência em grupo com projeto político comum. Eu sei que nós somos muito diferentes uns dos outros, mas temos algo ou muita coisa em comum. Precisamos lembrar disso! A bancada de cristãos fundamentalistas está aí, a todo vapor, legislando contra nossos interesses e no intuito de reprimir ou destruir os nossos modos de vida, isso que a gente chama de cultura gay. Se os LGBT não se envolverem com política, até mesmo aquilo que a maioria de nós tanto preza – que são os espaços de livre associação e de prazer, como boates, bares, festas e saunas – pode desaparecer.
:: O site oficial da campanha de Jean Wyllys é www.jea