Há duas semanas as meninas do 02 Neurônio escreveram em sua coluna no Folhateen sobre os pretês vira-latas. É que segundo o trio, um estudo realizado em duas universidades escocesas chegou a uma conclusão bastante interessante: os cachorros vira-latas são mais inteligentes do que os cães de raça com pedigree.
“Como os cães vira-latas nascem sem mordomia, têm que se virar. Nada de ração importada e tratamento em pet shop. Apenas as agruras da vida. E eles têm que se virar. Resultado: se desenvolvem mais. ‘Ser um cachorro de raça pura não melhora a inteligência’, declarou o cientista David Smith”, dizem as colunistas.
No universo das escritoras de um caderno semanal adolescente a metáfora criada por elas é que um pretendente vira-lata, sem "eira nem beira", pode ser mais interessante do que um rapaz criado com todas as mordomias. “Ração importada, leite A, viagens ao mundo, carro bacana. Cultura e principalmente dinheiro não garantem que uma pessoa seja interessante. E pelo que pudemos perceber, garotos que não têm tantos atrativos ‘culturais’ tentam se superar em outros aspectos, inclusive no setor ‘cama, mesa e banho’”.
Utilizando-se também de metáforas, nós gays poderíamos nos encarar cada vez mais como cachorros vira-latas. Para nós, que nascemos sem o pedigree da heterossexualidade, sobram as agruras da vida sobre o tom do preconceito. Viramos alvo de críticas, gracinhas e chacotas de todo tipo a todo instante.
Constantemente estereotipados, e sujeitos a tomar chutes por simplesmente não termos nascidos como “eles”. Evitam contato, fogem de nós, nos temem como se pulguentos fossemos.
E aí o que resta? Bom, os cachorros de rua e vira-latas de um modo geral não tomam vacinas. Desenvolvem os próprios anticorpos. Criam mecanismos de proteção. E se viram. Pois então façamos como nossos sábios amigos caninos.
Talvez por serem héteros, muitos não enxergam o quanto vale respeitar alguém, e ser respeitado. Talvez por serem héteros e viverem numa sociedade heteronormativa, muitos não se interessem por estudar, ler, se informar e com isso e desenvolver armas e argumentos contra o preconceito. Enfim, não precisam se virar.
Claro que não dá para fazer generalizações. Existem casos e casos, pessoas e pessoas, cães e cães. Mas esse texto é e suas metáforas que fiquem para alertar: existe muito gay vira-lata achando que nasceu com o pedigree da heterossexualidade e que, por isso, não precisa se virar.
O problema disso tudo é que assim eles acabam nem sendo vacinados e nem desenvolvendo anticorpos. Ficam fracos. Suscetíveis a chutes e pontapés. Sem argumentos, viram alvos fáceis. Doentes, letárgicos.