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GMP e os ‘caça às bruxas’ gays: por que um pedido de desculpas importa

Apologia histórica da polícia de Manchester é essencial para a cura e reconhecimento da comunidade LGBTQIA+

GMP e os 'caça às bruxas' gays: por que um pedido de desculpas importa

Apologia histórica da polícia de Manchester é essencial para a cura e reconhecimento da comunidade LGBTQIA+

Durante décadas, a comunidade LGBTQIA+ de Manchester enfrentou uma violência institucional velada, marcada por práticas policiais que hoje são reconhecidas como verdadeiros ‘caça às bruxas’ motivados pela homofobia. Apesar do avanço dos direitos e do combate à discriminação, uma ferida profunda permanece aberta: a recusa da Greater Manchester Police (GMP) em pedir desculpas oficiais por esses abusos históricos.

Esse tema voltou à tona após o ativista de direitos humanos Peter Tatchell cobrar, há dois anos, um pedido de desculpas formal da força policial, que envolveu desde invasões a espaços frequentados por pessoas LGBTQIA+ até declarações públicas carregadas de preconceito, como as feitas pelo ex-chefe da polícia Sir James Anderton, que, durante a crise da AIDS, descreveu homossexuais como “imersos em um esgoto humano”.

O impacto do silêncio e a importância do reconhecimento

Stephen Watson, atual chefe da GMP, respondeu afirmando que, embora se entristeça com as falhas do passado, um pedido de desculpas seria “superficial e meramente performativo”, além de não refletir a realidade atual da corporação. No entanto, para a comunidade LGBTQIA+, esse gesto vai muito além de formalidades: trata-se de reconhecer dores, validar experiências e iniciar um processo de cura.

O silêncio e a ausência desse reconhecimento oficial mantêm a ferida aberta, especialmente para as pessoas que vivenciaram ou tiveram familiares que sofreram diretamente as perseguições. O impacto histórico dessas ações reverbera até hoje, gerando desconfiança e medo em interações que deveriam ser pautadas pela proteção e respeito.

Aprendizados e paralelos: a reparação como caminho para a reconciliação

Uma analogia possível é a devolução, feita há alguns anos pelo Museu de Manchester, de 174 objetos sagrados e cerimoniais a uma comunidade indígena australiana. Embora contextos diferentes, o gesto representou um esforço consciente de reparar erros históricos, restaurar laços e promover o respeito cultural e social. Da mesma forma, a GMP poderia iniciar um processo de reconciliação com a comunidade LGBTQIA+ ao reconhecer formalmente seus erros do passado.

O pedido de desculpas não significa admitir culpabilidades individuais dos policiais atuais, mas sim reconhecer que a instituição participou de práticas injustas e discriminatórias, que não condizem com os valores e a realidade da polícia hoje. É um passo simbólico, mas fundamental para fortalecer a confiança e o diálogo entre a corporação e a população LGBTQIA+.

Por que a comunidade LGBTQIA+ merece essa reparação

Para muitos LGBTQIA+ mais velhos, o avanço conquistado pelas gerações atuais pode parecer distante, fruto de muita luta e sofrimento. O medo de denunciar crimes, o preconceito institucional e o estigma social foram barreiras reais que marcaram vidas. Reconhecer isso por meio de um pedido de desculpas é também um ato de respeito à memória e à resiliência dessa comunidade.

Além disso, vivemos um momento delicado, no qual direitos conquistados são questionados e ataques à comunidade, especialmente às pessoas trans, estão em ascensão. Em 2024, mais de 22 mil crimes de ódio relacionados à orientação sexual e quase 5 mil relacionados à identidade de gênero foram registrados na Inglaterra e no País de Gales, refletindo a urgência de apoio e solidariedade institucional.

Conclusão: a necessidade de um recomeço

A Greater Manchester Police tem a oportunidade de se posicionar ao lado da comunidade LGBTQIA+, reconhecendo seu passado e reafirmando seu compromisso com a inclusão, o respeito e a proteção de todos os cidadãos. Um pedido de desculpas oficial não apaga os erros, mas é o primeiro passo para curar feridas, construir pontes e garantir que o futuro seja pautado pela justiça e pela igualdade.

Para a comunidade LGBTQIA+ de Manchester e de todo o mundo, a reparação é mais que um gesto simbólico: é um chamado à empatia, ao reconhecimento e à transformação social verdadeira.

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