“Quando cheguei na altura da paulista, corri em direção ao metrô. Aquele povo cercando a gente e eu correndo, parecia um atleta. Só faltou as pessoas aplaudindo e uma faixa de linha de chegada pra cruzar”.
A comparação bem-humorada com a corrida de São Silvestre feita pelo estudante Binho, 19 anos, num tópico da comunidade “Bar Du Bocage /Trianon” no Orkut , contrasta com o momento de susto pelo qual o jovem rapaz passou na última sexta-feira (21/03). Ele e outros freqüentadores da praça Alexandre de Gusmão se viram obrigados a correr de um grupo de skinheads, que segundo relatos, chegou na praça agredindo os jovens com tacos de baseball e hockey.
O local, conhecido como “praça Trianon”, é o mais novo ponto de encontro dos jovens gays da cidade de São Paulo. Depois que a esquina da Alameda Itu com a Avenida Rebouças, onde fica o Bar du Bocage, virou palco de constantes ataques homofóbicos de grupos skinheads e “a polícia ter chegado lá e mandado todo mundo sair”, como relatou um dos freqüentadores em matéria no site A Capa, os jovens “migraram” para a praça, que antes era habitada apenas por michês.
Binho chegou na praça por volta das 20h. Pouco tempo depois, um grupo com aproximadamente 20 a 30 skinheads passou por ele. Deram a volta na praça e começaram a atacar as pessoas do outro lado. As pessoas começaram a correr em sua direção e o jovem e seu namorado se viram obrigados a fugir também. O estudante acredita que o grupo “passou batido [por ele e pelo namorado] porque não estávamos nos beijando nem trajando roupas chamativas”
Os agressores tinham idades que variavam entre 15 e 30 anos, segundo relatos de testemunhas. Estavam vestidos com roupas de skatista, roupas pretas e roupas comuns. “Em geral aparentavam ser de classe-média e média alta”, conta o estudante. Ainda segundo o rapaz, além dos tacos de baseball, os skinheads usaram tacos de hockey, pedaços de pau, pedras e garrafas quebradas.
“Durante a fuga, socorri uma garota que caiu no chão e quase foi pisoteada pela multidão. Ajudei ela a se levantar e depois de ver que ela estava bem, continuei a fugir, porque já estávamos na altura do metrô Trianon e os skinheads continuavam a perseguição. Corríamos em plena paulista e nenhum policial para nos socorrer. Quando cheguei nas proximidades da brigadeiro, dois jovens correram ao meu encontro, um deles estava com as roupas rasgadas e hematomas no corpo, alegava ter sido espancado pelos skinheads”, conta o jovem. Segundo o relato do rapaz, pouco antes do ataque havia “alguns poucos policiais” patrulhando as esquinas. Poucos depois de eles saírem, chegaram os agressores.
O rapaz conta também que não procurou ajuda da polícia na hora. “Vi um grupo de pessoas que pediram ajuda a um policial e ele levou a situação com desdém. O pouco caso feito pela policia, desencoraja as vitimas de procurar ajuda. Nos sentimos marginalizados e excluídos do direito a proteção. Não sabemos quem é pior, os skinheads que nos atacam, ou a policia que é omissa” protestou o jovem.
Binho conta que depois do ataque e da correria foi diretamente para casa. “Soube que a maioria das pessoas voltaram, essas justificam que não irão arredar pé do ‘Bocage’ [Praça Alexandre Gusmão]. Os skins dizem o mesmo”, conclui o rapaz.
A CADS – Coordenadoria da Diversidade Sexual de São Paulo – não sabia do caso e não pode se posicionar. "Até o momento não recebemos nenhuma informação ou reclamação sobre o caso. Nem no Cads, nem no Centro de Referência", informou Eduardo Cardoso