O grupo Teatro de Gaia foi fundado em 2005 pelo ator Alexandre Acquiste com a ideia de desenvolver um núcleo de pesquisa teatral voltado ao público infantil. O grupo trabalha em cima da linguagem e expressão "clownesca" (dos palhaços, em português).
Em 2006, estrearam o primeiro espetáculo, "Brincando de Clownfabular". A peça teve temporadas na capital paulista, Piracicaba, Sorocaba e outras cidades paulistas.
No ano de 2007 o grupo iniciou a pesquisa "Quando a Literatura e o Teatro se encontram, Boas Histórias Tornam-se Mais que Boas Historias". A pesquisa resultou em alguns espetáculos teatrais: "Histórias de Bem-me-quer"; "Era uma vez um velho gato xadrez" e "Histórias para Shakespeare ouvir/ O Tímon de Atenas?".
Desde 2009 o grupo Teatro de Gaia trabalha em cima do texto "Na Ilha", que é inspirado no livro infantil "Meu amigo Jim", que está nas grades curriculares dos colégios europeus. Em entrevista exclusiva ao site A Capa o ator e fundador do grupo, Alexandre Acquiste, conta que resolveram fazer a peça, pois a história é uma "parábola sobre as dificuldades em se lidar com a diferença".
Questionado sobre o porquê de se fazer uma peça infantil gay, Acquiste diz que "’Na Ilha’ é mais que uma peça gay" e que a ideia do roteiro "vem de encontro a um desejo de que as crianças aprendam a lidar com o outro, com o diferente, de forma respeitosa".
"Na Ilha" teve pré-estreia na cidade paulista Birigui, no Sesc. O grupo espera que ainda nesse semestre a peça entre cartaz. Confira a seguir entrevista.
De onde surgiu a ideia de fazer uma peça infantil gay?
No ano de 2005 fundei o grupo Teatro de Gaia e desde então venho produzindo espetáculos voltados para crianças. O tema respeito às diferenças sempre esteve presente no meu trabalho. Mais que uma peça gay a ideia vem de encontro a um desejo de que as crianças aprendam a lidar com o outro, com o diferente, de forma respeitosa. A peça aborda além da sexualidade, outros temas do cotidiano de toda criança como: a discriminação racial, o valor da amizade e a importância do hábito da leitura.
Quem são os autores do texto?
"Na Iha" foi escrita por Luis Fabiano Teixeira. O texto da peça é uma livre adaptação do livro infantil "Meu Amigo Jim" da escritora belga Kitty Crowther.
Em que fase está o espetáculo?
Fizemos uma pré-estreia na cidade de Birigui-SP através da programação do Sesc. Estamos finalizando alguns ajustes para que a peça possa estrear ainda no primeiro semestre de 2010.
Quantos atores estarão em cena?
Em cena estão três atores-contadores de histórias. São eles: Apollo Faria, Elise Guedes e Alexandre Acquiste.
Fale sobre a história da peça.
"Na Ilha" é uma bela história. Uma parábola sobre as dificuldades em lidar com a diferença. Jack e Jim, dois pássaros de mundos distintos, se descobrem grandes amigos. Jim é uma gaivota. Jack é um melro. Jim vive perto do mar. Jack mora no bosque. Jack adora ler. Jim usa folhas de livros para acender a lareira. Jack é negro. Jim é branco. Apesar de tantas diferenças, os dois pássaros têm algo em comum: gostam de estar juntos. Porém a afinidade que os une gera estranheza e preconceito na ilha das gaivotas. Mas, mesmo que outras aves torçam o bico para isso, eles não perdem uma pena de preocupação. Afinal, por que é tão difícil aceitar a amizade deles? Quando Jack chega à ilha do amigo, não sente um ambiente cordial. Isso porque os moradores nunca tinham visto um pássaro todo preto. Pacientes, ao invés de desafiarem a opinião da maioria, o melro e a gaivota seguem suas vidas mesmo sob os olhares de reprovação. Até que algumas gaivotas percebem que Jack pode ensiná-las muitas coisas interessantes, como o prazer das histórias contidas nos livros.
Pelo fato de se tratar de uma peça infantil voltado para temática homossexual, acha que terá mais dificuldade para conseguir patrocínio? Por quê?
Acho. Porque ainda há preconceito. De uma forma velada ou não, ainda há. As pessoas se admiram e fazem a mesma indagação: um infantil GLS? Como assim? Mas temos tido apoios importantes de parceiros como o empresário Douglas Drumond, através do Casarão Brasil, o estilista Adeh Oliveira e o jornalista Ricardo Rocha Aguieiras. Enfim, Apesar das dificuldades acreditamos no projeto como contribuição artística e social.
Acredita que as crianças estão preparadas para assistir uma peça sobre a homossexualidade, visto que os colégios ainda não falam sobre o tema?
"Meu Amigo Jim" – o livro que deu origem ao espetáculo – já está implantado na grade curricular há um bom tempo. Assim como outros títulos. Claro que a peça trata a questão homossexual de forma muito sutil. Não estamos lá pra levantar bandeira, apenas pra falar de forma artística que amar alguém do mesmo sexo é algo normal, natural. E tenho certeza que as crianças estão preparadas, pelo menos mais que os adultos.
Acha que os pais irão levar os seus filhos para assistir a peça?
Acho. É uma peça pra família. É uma peça que fala de gentileza. Acho que os pais devem levar seus filhos.