Conferências sobre “valores familiares” no Quênia e outros países buscam impor agenda anti-LGBTQIA+ e antiaborto
Nos últimos meses, uma série de conferências patrocinadas por grupos ultraconservadores dos Estados Unidos e Europa tem ganhado força na África, com o objetivo claro de reforçar discursos contra os direitos LGBTQIA+ e o acesso ao aborto. O Quênia, país onde essas reuniões têm sido organizadas, se tornou palco de um movimento coordenado que ameaça reverter avanços importantes conquistados pela população LGBTQIA+ e pelas mulheres.
Uma ofensiva global em solo africano
Esses eventos, promovidos por organizações como Family Watch International, Christian Council International, Center for Family and Human Rights e Family Policy Institute, apresentam-se sob a bandeira da defesa dos chamados “valores familiares tradicionais”. No entanto, em suas entrelinhas, deixam claro o intuito de impor uma agenda conservadora que nega direitos básicos, criminaliza a diversidade sexual e restringe a autonomia das mulheres sobre seus corpos.
A novidade nesta temporada é a participação direta de ativistas europeus ligados a grupos de extrema-direita, como a francesa Ludovine de La Rochère, o polonês Jerzy Kwasniewski, e a espanhola Margarita de la Pisa Carrion. Juntos, eles buscam legitimar frente ao público africano uma narrativa que associa a defesa dos direitos LGBTQIA+ a “influência estrangeira” e “modismos ocidentais”, reforçando estigmas e preconceitos.
O impacto no Quênia e a luta local
No Quênia, onde o aborto é permitido apenas em emergências que ameacem a vida da mulher e onde as relações entre pessoas do mesmo sexo ainda podem resultar em prisão, esses encontros têm papel preocupante. Ativistas locais alertam que a presença desses grupos pode influenciar legislações que já são restritivas, ampliando a perseguição e a violência contra pessoas LGBTQIA+.
Apesar das dificuldades, a comunidade queer queniana tem alcançado conquistas importantes, como a decisão judicial que permite o registro formal de organizações LGBTQIA+. No entanto, políticos locais alinhados à agenda ultraconservadora, como o deputado Peter Kaluma, têm proposto projetos de lei que criminalizam ainda mais a população LGBTQIA+, incentivados pelo apoio internacional desses grupos estrangeiros.
Uma estratégia que se espalha pelo continente
O Quênia não é um caso isolado. Conferências semelhantes foram realizadas no Uganda, onde uma das leis anti-homosexualidade mais severas do mundo foi sancionada em 2023; na Serra Leoa, que discute a legalização do aborto; em Ruanda e Gana, entre outros países africanos.
Esses encontros são parte de uma estratégia bem organizada para estabelecer parcerias com aliados locais, amplificando uma agenda que se aproveita de governos autoritários e de uma forte influência religiosa para restringir direitos humanos.
Resistência e esperança
Frente a essa onda de conservadorismo, ativistas e defensores dos direitos humanos na África estão mobilizados para proteger os direitos conquistados e avançar na inclusão. Organizações locais e internacionais reafirmam seu compromisso de lutar contra a discriminação e garantir que as constituições e legislações reflitam os princípios da dignidade, igualdade e liberdade para todas as pessoas, independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero.
Para o público LGBTQIA+ brasileiro que acompanha essas questões, é fundamental entender que a luta por direitos é global e que o apoio internacional à diversidade e à justiça social pode fazer a diferença para quem enfrenta um cenário de opressão. Manter-se informado e engajado fortalece a rede de solidariedade que atravessa continentes e que é essencial para a construção de um mundo mais justo e inclusivo.