E como era de se esperar, o grande campeão do Oscar 2010 foi “Guerra ao terror”. A vitória da ironia e a derrota do mercado cinematográfico. O filme foi ignorado pelos cinemas norte-americano. Foi exibido em apenas cinco salas de lá. No Brasil, foi lançado diretamente em DVD. Agora, com seis estatuetas, será comercializado nas salas e complexos.
Mas, qual é o significado da vitória de uma obra orçada em 60 milhões ante um longa que saiu por 500 milhões? Como disse em post anterior, a academia busca reconquistar a sua credibilidade. Portanto, em 2009 premiou “Quem quer ser um milionário?”. Obra dirigia por um inglês e bancada por dinheiro inglês e indiano. E esse ano consagrou um filme realizado com dinheiro francês. As portas norte-americanas se fecharam a Kathryn Bigelow. Quem as fechou deve estar a chorar.
Este foi o Oscar de guerra ao terror e ao xenofobismo pós-crise industrial e econômica estadunidense. E tal inclinação às novas idéias também reflete a eleição de Obama no ano passado e revela outra realidade: se “Avatar” tivesse sido realizado em 1998 com certeza teria ganhado todos os prêmios e ninguém ouviria falar de “Guerra ao terror” e “Preciosa”. Pois, os anos 90 era a época de abundância econômica.
Porém, o momento é de introspecção dos cidadãos dos Estados Unidos. Boa parte deles está envergonhada, ainda, pelos oito anos de Bush e não querem mais saber de ocupações territoriais belicistas. E também é o momento de crise e pé no chão. Ou seja, está na hora de olhar para obras mais baratas, talvez elas tenham algo a falar. O país já gastou muito. A indústria cinematográfica também. Está provado que é possível fazer muito com pouco.
Outro sintoma muito interessante é a vitória em si de Kathryn Bigelow. A primeira mulher a ganhar Oscar de melhor diretora na história da premiação. E as ironias não param: já era 8 de março quando Kathryn digeria melhor direção e melhor filme do ano. Melhor homenagem para as mulheres dos EUA não há.
Se alguém duvidava das novas diretrizes do Oscar pode parar. Basta ver o score final dos premiados. Todas as obras pequenas, temas ácidos e produções independentes. Este também deve pautar o cinema norte-americano daqui para frente. Como bem disse José Wilker, “está na hora de olhar para o outro cinema feito nos Estados Unidos”.