Como políticas racistas e transfóbicas atacam migrantes queer e trans em busca de refúgio e liberdade
Vivemos um momento em que a migração LGBTQIA+ é alvo de uma verdadeira guerra, um capítulo cruel da violência nas fronteiras que conecta imperialismo ocidental, racismo e transfobia institucional. Países ricos, como a Austrália, não apenas criam as condições que forçam pessoas queer e trans a deixarem seus lares, mas também levantam barreiras rígidas e punitivas para impedir que encontrem segurança.
Essa expulsão em massa é fruto de legados coloniais, como as leis homofóbicas herdadas da colonização europeia, e da influência de igrejas conservadoras, que ainda hoje incentivam perseguições em países da África e Oriente Médio. Além disso, mudanças recentes em políticas nos Estados Unidos e em nações ocidentais — como a proibição de cuidados afirmativos para trans e a retirada de direitos — ampliam o desespero de quem foge de uma realidade cada vez mais hostil.
O imperialismo das fronteiras e a negação da saúde
O ativista Harsha Walia define o controle migratório como a extensão da violência imperialista, aplicada especialmente contra os que fogem das consequências dessas mesmas políticas. Na Austrália, um exemplo claro é a persistência das barreiras para pessoas vivendo com HIV, que enfrentam restrições para obter vistos permanentes devido a um suposto “custo à saúde pública”. Embora o financiamento para resposta ao HIV tenha diminuído drasticamente, o país mantém critérios discriminatórios que penalizam justamente quem mais precisa de apoio, forçando muitos a migrar em busca de tratamento.
Perseguição no controle de fronteiras
O governo australiano criou mecanismos como a triagem de entrada, que não tem respaldo na legislação, para identificar e barrar solicitantes de asilo LGBTQIA+. Em 2019, por exemplo, dois jornalistas gays da Arábia Saudita foram detidos e impedidos de pedir proteção, mesmo com vistos válidos, evidenciando como o sistema é usado para negar refúgio a quem mais precisa.
Além disso, a Operação INGLENOOK, liderada pela Força de Fronteira Australiana, direciona sua vigilância e controle especialmente contra mulheres trans asiáticas, muitas vezes com base em preconceitos e perfilamento racial. As buscas invasivas, a apreensão de celulares e a negação de vistos sob suspeita de envolvimento com o trabalho sexual são práticas comuns, que expõem essas pessoas a constrangimentos e deportações injustas.
Detenção e isolamento: a violência institucional contra trans
Quem não é deportado pode enfrentar a detenção migratória indefinida, um cenário de isolamento, insegurança e violações. Mulheres trans detidas em centros como Villawood são colocadas em alojamentos isolados e submetidas a regras arbitrárias, muitas vezes negando até mesmo tratamentos hormonais essenciais. Relatos de abusos sexuais e perseguição por parte de agentes são frequentes, enquanto leis recentes ampliam o poder das autoridades para confiscar celulares e cortar a comunicação dos detidos com o mundo exterior.
Resistência e solidariedade queer
Frente a essa escalada de violência, ativistas e comunidades LGBTQIA+ lutam para derrubar essas barreiras. Movimentos em Sydney e outras cidades do mundo estão ao lado de migrantes e pessoas trans, exigindo o fim da detenção arbitrária, a garantia de vistos permanentes e a descriminalização do trabalho sexual. É urgente declarar guerra contra a guerra na migração queer, defendendo justiça trans, direitos de refugiados e a liberdade de todos de viverem com dignidade.
Porque não há orgulho na detenção, ninguém é ilegal e a luta por migração segura e livre é parte inalienável da nossa resistência LGBTQIA+ global.
Que tal um namorado ou um encontro quente?