"Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal" (Platão)
Nossa, nossa… Esta semana está sendo uma verdadeira montanha-russa, cheia de altos e baixos, no que tange a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT). Besha, é tanta coisa acontecendo que, se eu não parar um pouco, fico até tonta… O que não é difícil.
Domingo, aqui em São Paulo, aconteceu a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo. A organização do evento, a APOGLBT, comemorou os 15 anos da manifestação que contou até com uma valsa. Mas o que as gays queriam mesmo, meu amor, era a boa música eletrônica. E teve mona, foi babado, confusão e muito bate cabelo (mesmo que molhado) e olha que nem a chuva impediu que a gente curtisse o dia e manifestasse o nosso direito de amar. Sobe!!!
Ainda no domingo, porém, o Fantástico (que cá entre nós, já foi mais fantástico), aproveitando o dia da Parada, exibiu uma entrevista com o juiz de Goiás, Jeronymo Pedro Villas Boas, que teve a audácia de cancelar o primeiro registro de união estável homoafetiva no Brasil entre Léo Mendes e Odílio Torres, contrariando assim a decisão unânime do Supremo Tribunal Federal que estendeu aos homossexuais o mesmo direito dos casais heterossexuais. O juiz, que coincidentemente também é pastor da Igreja Assembleia de Deus, disse que sua decisão não está pautada em sua fé, mas sim no cumprimento da Constituição. Ahaaam… Desce!!!
Numa descida mais brusca ainda, a ex-atriz global, que já posou nua em revistas masculinas e hoje faz parte da comunidade Canção Nova – comunidade ultraconservadora que se baseia nos ideais da Renovação Carismática Católica, a famigerada RCC – discursou contra a Proposta de Emenda à Constituição (a PEC-23) que criminaliza a homofobia. O problema é que a deputada usou de argumentos pra lá de preconceituosos para exemplificar por que era contra a PEC. Entre as tantas bobagens que ela proferiu, ela disse: "Digamos que eu tenha duas meninas em casa e contrate uma babá que mostra que sua orientação sexual é ser lésbica. Se a minha orientação sexual for contrária e eu quiser demiti-la, eu não posso. O direito que a babá tem de querer ser lésbica, é o mesmo que eu tenho de não querer ela na minha casa. Vou ter que manter a babá em casa e sabe Deus até se ela não vai cometer pedofilia contra elas. E eu não vou poder fazer nada". Tá boa, né deputada?!?!?!? Primeiro, homossexualidade não é a mesma coisa que pedofilia e, segundo, estudos comprovam que a grande maioria dos pedófilos é heterossexual, são pais de família e até com um perfil bastante religioso. Aliás, a própria Igreja Católica sofreu no bolso com os vários casos de pedofilia praticado por seus sacerdotes. Desce!!!
O que me intriga, ou melhor, o que me faz o sangue pingar no desequilíbrio, é que políticos e ocupantes de cargos públicos, como o juiz mencionado, se esquecem rapidamente que o Estado é laico e que crenças religiosas (as quais não discuto, pois não é minha função) não são argumentos para as suas decisões. A crença religiosa de uma pessoa é um direito, garantido na Constituição, mas que faz parte da vida privada das pessoas. O Estado, e entenda-se neste termo as pessoas que ocupam cargos públicos que fazem a máquina do governo funcionar, não deve fazer uso da subjetividade dos agentes para decidir as questões a ele levadas.
O juiz, que é pastor, como já disse, alega que sua fé cristã não serviu para que ele tomasse a decisão de cancelar a união estável do casal gay, bem como proibir que os cartórios de Goiás realizassem as uniões aprovadas pelo STF. Me engana… As igrejas cristãs são as únicas que tem se manifestado contra o avanço das conquistas dos direitos dos homossexuais e ele vem com esse truque todo??? E o que a PEC-23 propõe é a punição por atos homofóbicos, como por exemplo, a demissão de uma pessoa pelo simples fato dela ser homossexual. Do mesmo modo que uma pessoa ou uma empresa não pode demitir alguém pelo simples fato dela ser católica, evangélica, espírita ou budista. E olha que religião, diferentemente de orientação sexual, é escolha. E se escolha pode e deve ser respeitada, não entendo o barulho que esses religiosos, ou pseudoreligiosos, fazem quando a comunidade gay requer que o Estado nos assegure como cidadãos brasileiros.
É por esta razão que eu sempre digo. Essas pessoas, me parece, falam em nome de Deus, mas seus discursos me parecem ser algo diabólico. Pois eu não consigo entender como uma pessoa pode achar que fala em nome de Deus, querendo impedir que o próximo (aquele tal próximo que eles vivem dizendo que devemos amar) tenha os mesmos direitos. Mas não é de hoje que esses discursos existem. Uma análise bem simples da história medieval nos mostrará as barbaridades que a igreja católica cometeu e mesmo os protestantes que chegaram às Américas.
Enfim, esses acontecimentos, meus escândalos, mostram o quanto nós precisamos nos articular, nos posicionar, nos manifestar e agir. Eles servem para mostrar como nossa comunidade é frágil e o quanto somos dependentes da boa vontade de políticos que, felizmente, entendem nossa causa. Mas precisamos de mais, precisamos de pessoas esclarecidas, que entendam nossa realidade, ocupando cargos no governo ou, citando Platão novamente, continuaremos vivendo as amarguras deste sobe e desce, afinal, como diz o filósofo: "O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus".
Termino este artigo com um babado que achei realmente escândalo: a Justiça de São Paulo, através do juiz Fernando Henrique Pinto, de Jacareí, converteu em casamento a união estável homoafetiva entre Luiz André e José Sérgio, que passarão a ter como estado civil "casado" e ainda vão compartilhar o mesmo sobrenome. Subida em 90 graus…
Tá dado o recado… Beijo, beijo, beijo… Fui…