Menu

Conteúdo, informação e notícias LGBTQIA+

in

Há 25 anos morria Simone de Beauvoir: libertária, feminista e poligâmica

“A mulher propriamente dita não existe… Ela não passa de uma criação masculinista”, este ponto de vista foi escrito por Simone de Beauvoir em 1949, quando termina a sua obra mais polêmica, “O Segundo Sexo”, que inaugura uma nova fase na crítica feminista. Mas tal fato histórico não é novidade para ninguém. No entanto, quem foi Simone de Beauvoir?

A polêmica filósofa nasceu em Paris, no dia 9 de janeiro em 1908. Oriunda de uma família burguesa, viveu a decadência quando o seu avô, o banqueiro Gustave Brasseur, faliu e acabou por levar toda a família à falência. O pai de Simone, Georges de Beauvoir, que não gostava de trabalhar, teve que voltar a labuta e se mudar com a família para um pequeno apartamento.

Segundo os biógrafos de Simone, o seu pai sempre desejou um filho do gênero masculino e a educava como um garoto. Dizem que ela gostava da ideia e que por conta disso teve uma adolescência rebelde e voltada aos estudos.

Simone de Beauvoir conheceu o seu primeiro amor aos 15 anos quando foi estudar no colégio católico “Cour Désir”. Trata-se Elisabeth Le Coin, a quem Simone sempre se referiu como Za Za, que andava vestida como se fosse um garoto, fato que logo de cara despertou a atração de Simone. Além de tudo, Za Za era uma pessoa que não acreditava na dignidade humana, dizia que os homens apenas gostavam do dinheiro. Simone e Za Za viveram uma admiração e amor mútuo. Porém, tal relação foi encerrada com a morte precoce de Za Za.

Oprimida pelo pai, Simone é forçada a obter três licenciaturas. Seu pai falava que a filha era feia e que não conseguiria arrumar um marido. Mas não se opunha à ambição da moça que, desde os 15 anos, se declarava ateia e dizia que gostaria de ser escritora. Talvez, a posição ditadora de seu pai a tenha feito uma das principais pensadoras do século XX. Após conseguir as licenciaturas em literatura, matemática e filosofia, Simone prepara-se para se tornar Professora Titular de nível superior (agrégée, em francês).

Nesta época, por volta de 1928, Simone inicia amizade com Maurice Merleau-Ponty, que também se tornaria importante filosófo. Neste momento, a filósofa começa a frequentar os bares mais badalados de seu tempo: La Rotonde, Jockey, Dôme, e nasce aí também a sua boemia, algo que a escritora não abandonaria. Até porque o desenvolvimento da teoria existencialista estaria ligado a essa vivência e experiência.

Simone ganha então o apelido que a perseguira por toda vida: castor. Quem lhe daria essa delicada alcunha seria outro filósofo, René Maheu, que achava o sobrenome Beauvoir com pronúncia parecida com a palvra beaver (castor em inglês).

Com esta amizade, Simone conhece o seu grande amor e parceiro até a morte: Jean Paul Sartre, que ao seu lado criou os alicerces para a filosofia do existencialismo. A partir do encontro entre os dois, que fulmina em uma paixão forte, Sartre e Beauvoir, ao invés de casar, propõem um pacto: ficariam juntos, mas em sua relação não existiria a monogamia e a mentira. Eles acreditavam que precisavam conhecer a fundo a alma da humanidade e que isso requer liberdade e verdade.

Aos 23 anos, Simone de Beauvoir é nomeada professora em Marseille e Sartre é nomeado para o Havre. O casal teria de se separar. Por conta disso, Sartre propõe o casamento para Simone, que recus, e alega não querer viver sob os ditames hipócritas da sociedade burguesa.

Em 1932, Simone se apaixona por uma de suas alunas, Olga Kosakiewicz, apelidada pelo casal de “a pequena russa”. Sartre volta a viver com Simone, agora com Olga, e passam a ser um triângulo amoro, que logo se tornaria um quarteto com a chegada de um aluno de Sartre: Jacques-Laurent Bost.

Esta não seria a última vez que Sartre e Simone vivenciariam a experiência em triângulos e quartetos bissexuais, tanto é que em muitos lugares eles eram proibidos de entrar, visto que à época eram considerados imorais. A vida de Simone ganha outros contornos quando em 1949 é publicado “O segundo sexo”, que resulta em ataques públicos a sua pessoa. Porém, foi também com este livro que ela alcançou sucesso mundial e foi recorde de vendas.

Simone nunca falou publicamente sobre suas relações homossexuais, mas assumiu nos anos 70 ter feito aborto e abraçou a luta pela causa. Muitos biógrafos dizem que passaram por Simone inúmeras alunas, mas que ela nunca falaria sobre isso por considerar a sociedade ainda muito hipócrita.

O fato é que Simone de Beauvoir deixou vários livros fundamentais para o mundo e, em uma época que tanto se discute sobre a mulher, o corpo e de quem realmente somos enquanto sujeito na sociedade, nunca foi tão atual… Na verdade, Simone ainda é provocadora e atual. E é isso que faz dela um gênio.

Sair da versão mobile