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“Há preconceito nas redações”, diz jornalista Ivan Martins em debate sobre gays e mídia

O site e revista A Capa realizaram na tarde desta sexta-feira (12/06), no Hotel Panamericano, em São Paulo, a mesa Mídia e Homossexualidade, que contou com as presenças do redator de redação e arte da revista gay DOM; do editor executivo da revista Época Ivan Martins; do repórter do jornal O Estado de S. Paulo William Glauber; e da diretora do Festival Mix Brasil Suzy Capó.

Durante o evento, os profissionais e um público de cerca de 50 pessoas discutiram sobre a abordagem da homossexualidade nas redações. No primeiro bloco, os convidados puderam expor um pouco sobre a experiência de cada um com o tema. Suzy Capó falou da relação do Festival Mix Brasil com a grande imprensa que, segundo ela, ajudou a fortalecer a importância do evento. "Acredito que a temática da homossexualidade não seria tão discutida hoje se não fosse o espaço que os veículos deram para divulgar o Mix Brasil", disse Capó, que também contou casos curiosos envolvendo o festival. "No Rio, por exemplo, um crítico jamais escreveu uma resenha sobre nossos filmes porque para eles esses filmes não eram importantes", contou. "Mas era porque se tratava de um festival gay", completou.

Augusto Lins Soares fez uma breve apresentação dos assuntos abordados pela revista DOM e destacou alguns pontos da linha editorial da publicação, dizendo que os próprios leitores reclamam da falta de fotos mais explícitas em suas páginas. "A revista segue uma outra linha, prezando pela qualidade e relevância das informações", disse. Já Ivan Martins falou sobre como a revista Época recebe pautas sobre homossexualidade. "Diversidade é notícia", disse. "Queremos apresentar o que é moderno e tentar entender o que a sociedade está fazendo", acrescentou.

Martins lembrou três reportagens da publicação que abordaram a temática. Uma delas, sobre o casal de sargentos Laci e Fernando, gerou discussão em todo o país. "Demos visibilidade para o caso e até ajudamos o casal. Mas é claro que o tratamento, que pode ter soado de certa forma preconceituoso, foi próprio de uma revista de grande circulação, que precisa vender notícia", afirmou o editor executivo.

Por sua vez, William Glauber disse que na redação do Estadão não há resistência por parte dos editores em lidar com a pauta gay. "Os editores incentivam seus repórteres a investigarem sobre o assunto", contou. "O Jornal da Tarde, irmão do Estado, publica inclusive um especial com a programação da Parada Gay", destacou o jornalista, que também comentou sobre a importância do uso correto dos termos que definem a comunidade LGBT.

No segundo bloco, o público se juntou à discussão, fazendo perguntas aos convidados. Questionado sobre como a pauta gay é recebida na redação da revista Época, Ivan Martins foi claro e objetivo: "Dizer que não há preconceito na redação é mentira. Existe uma pressão por parte de quem edita a revista para que abordemos pautas mais ‘normais’. A grande imprensa ainda não sabe lidar com o tema", assumiu.

Para Martins, existe uma convergência de interesses. "A revista precisa vender e o jornalista precisa contar uma boa história, que deve ser de interesse do leitor", falou. Uma questão levantada pelo público foi se existe ou não uma cultura gay. Augusto Lins Soares opinou sobre o assunto: "Existem culturas gays. É muito positivo o fato de a mídia dar espaço para a discussão dessas várias visões. Na DOM, tentamos privilegiar várias facetas da mesma notícia", disse.

Também foi perguntado aos jornalistas se a grande imprensa está despreparada para lidar com a temática homossexual. Ivan Martins exemplificou: "Na matéria que fiz sobre um crossdresser, tive que lidar com meus próprios preconceitos. Não sabia o que a palavra crossdresser significava, o que esses homens que se vestem de mulher fazem", confessou. "Levar esse olhar de quem está espantado com o assunto é mais interessante para o leitor."

Martins e William Glauber também frisaram a importância do uso correto de termos que definem os homossexuais. "É preciso ter paciência com a mídia especializada, que ainda caminha para o total entendimento da temática homossexual", disse Martins. "Atualmente, a imprensa passa por um período de adaptação", completou Glauber.

Após a mesa sobre mídia e homossexualidade, ocorreu um debate sobre gays nas empresas, que contou com a presença de diversos ativistas, como Tommaso Besozzi, do grupo Corsa, e do presidente da Parada Gay de Vancouver, Ken Koolen, que mostrou trechos do documentário "Beyond Gay – The Politics of Pride", sobre as paradas gays em todo o mundo.

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